sábado, 26 de fevereiro de 2022

Anotações de uma guerra em curso

A bandeira presidencial da Rússia, com brasão central.
A bandeira presidencial da Rússia, com brasão central.

Estamos em fevereiro de 2022, prestes a completar dois anos da eclosão da Pandemia do Coronavírus em escala global, com a derrubada dos mercados de capitais. Após a sequência de vacinações combinada com os efeitos menos nocivos da variante Ômicron, o mundo começava a vislumbrar não um retorno à normalidade antiga, mas a um novo tempo de relativa retomada das atividades convencionais.

Porém, esqueceram de combinar com os russos. Esquecerem de perguntar o que se passa na mente estrategista de Vladimir Vladimirovitch Putin, o presidente formal da Rússia, em verdade um ditador obcecado pela ideia de recolocar sua nação no centro das atenções, reservando para ele mesmo um lugar na História. Inocentes ucranianos estão pagando com suas vidas o preço dessa megalomania.

Obviamente estamos atônitos. Nesse momento é muito difícil, ao menos para mim, estruturar um texto com começo, meio e fim. Os historiadores vão precisar da algumas décadas para fazer isso em seus livros e teses. Tudo que posso oferecer são fragmentos de um diário com páginas faltando. As redes sociais nos induzem a isso: pensar de forma fragmentada. Sinais de um tempo líquido em franca evaporação.

A seguir apresento minhas breves observações sobre o tema. Os parágrafos iniciais (em negrito) de cada data foram postados no Twitter e os comentários complementares no Instagram.

14 de fevereiro de 2022

O brasão da antiga bandeira da Rússia traz uma águia com duas cabeças: uma voltada para o Ocidente e outra voltada para o Oriente. Não se trata apenas de um símbolo, mas de uma sina: o papel da Rússia na História é ser a fiel da balança entre opostos. Putin é um czar pós-moderno.

Se a OTAN não ceder em alguns pontos para evitar uma invasão russa na Ucrânia, a possível consolidação de uma aliança de Putin com o Partido Comunista Chinês seria uma guinada histórica sem precedentes.

24 de fevereiro de 2022

A Rússia está comendo a Ucrânia pelas beiradas, enquanto os burocratas da ONU e da OTAN fazem reuniões protocolares. De um lado temos Putin, homem talhado para ser um imperador pós-moderno. Do outro estão presidentes e primeiros ministros que mais parecem síndicos de condomínios.

E a China assiste tudo de camarote.

25 de fevereiro de 2022

O Império Romano foi cristianizado quando Constantino estava no poder. Ele também fundou Constantinopla, para onde o Império se mudou com a chegada dos bárbaros em Roma. Os mouros expulsaram os ortodoxos de Constantinopla e eles foram para Moscou. Putin é um herdeiro dessa meada.

As motivações para a invasão da Rússia na Ucrânia são bem mais complexas do que a mídia está abordando. É preciso entender um contexto histórico milenar que inclui a influência da religião na política. Putin quer seu lugar na História com H maiúsculo feito Alexandre, o Grande, Júlio César e Napoleão Bonaparte. Para fazer frente aos seus delírios de conquistador, precisamos da liderança de alguém como Churchill. Infelizmente Biden não reúne os atributos necessários para cumprir este papel. Porém, Putin não vai parar na Ucrânia. Ele vai avançar até o fim de seus dias, pois se preparou a vida inteira para isso.

27 de fevereiro de 2022

O Brasil é um país periférico na geopolítica mundial. Isso significa que nossos principais problemas são de ordem interna, e as soluções também. A gente não acorda com a ameaça de levar bombas que caem do céu. Nossos inimigos estão entre nós: a corrupção e a ineficiência estatal.

Enquanto russos e ucranianos guerreiam em solo europeu, descendentes de russos e ucranianos convivem em harmonia no interior do Paraná.

Em São Paulo, um judeu pode almoçar num restaurante sírio-libanês e tudo bem.

Aqui, coreanos e chineses podem sentar na mesma arquibancada e torcer por um time criado por imigrantes italianos.

O Brasil é um ótimo lugar para investir. Nossas torres de transmissão de energia não são alvos de mísseis. Os empreendimentos imobiliários financiados por FIIs por intermédio de CRIs igualmente não correm risco de ruína por causa de tanques de guerra desgovernados.

Mas temos que fazer a lição de casa, mediante a renovação da classe política no Congresso.

Não é um processo rápido e fácil, mas necessário.

Se tivermos pautas reformistas para destravar as amarras do nosso desenvolvimento empresarial, a gente voa, pois já andamos para frente mesmo diante das dificuldades habituais como a burocracia e a alta carga de impostos.

Temos que fazer isso democraticamente, sem esperar por um salvador da pátria, pois isso seria dar brecha para a imposição da autocracia no Brasil.

01 de março de 2022

Putin é um autocrata a favor da mão pesada do Estado sobre o país. Com isso ele agrada esquerdistas radicais. Mas ele também prega o conservadorismo nos costumes, ganhando a simpatia da direita extrema. Ainda que muitos neguem, há quem defenda Putin, que segue sem um antagonista.

O líder da Rússia pode perder a guerra militar e econômica, mas seguirá dando as cartas no campo ideológico, minando o Ocidente por dentro, que por sua vez abriu mão de um de seus pilares fundamentais, ao permitir o processo de "secularização" da sua sociedade.

De certo modo, os conflitos bélicos resgatam sentimentos outrora considerados anacrônicos, como o patriotismo. Neste sentido uma nova Guerra Fria, iniciada logo após uma trégua na Ucrânia, dividiria o mundo outra vez, num golpe contra o globalismo.

São questões em aberto. Só o tempo trará as respostas.

Continua?

Veja também:

O sinal do tempo e do trabalho

O quadro da Caloi Cruiser 87

São Paulo não foi cancelado pelos epicureus e estoicos

Vivalendo.com recomenda:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O seu comentário construtivo será bem vindo. Não publicaremos ofensas pessoais ou dirigidas para qualquer entidade. EVITE ESCREVER SOMENTE COM MAIÚSCULAS. Não propague spam. Links e assuntos não relacionados ao tema da postagem serão recusados. Não use termos chulos ou linguagem pejorativa.