quinta-feira, 11 de julho de 2024

Viver com dívidas é como viver numa prisão

Viver com dívidas é como viver numa prisão

As dívidas podem ser comparadas a correntes invisíveis que aprisionam as pessoas, limitando suas possibilidades e criando um peso constante que impede o progresso e a realização pessoal. Assim como correntes físicas, as dívidas impõem restrições severas ao movimento financeiro, criando uma sensação de sufocamento e desesperança.

A jornada rumo à liberdade financeira começa pela resolução das dívidas. Isso exige não apenas uma mudança de comportamento, mas também a compreensão do papel dos juros compostos. Quando estamos endividados, os juros compostos trabalham contra nós, aumentando continuamente o montante devido e tornando cada vez mais difícil sair do buraco financeiro. Por outro lado, quando estamos livres de dívidas e começamos a investir, os juros compostos podem ser nossos aliados, aumentando nosso patrimônio de maneira exponencial ao longo do tempo.

O primeiro passo para resolver problemas com dívidas é reconhecer a extensão delas e aceitar a necessidade de mudança. Isso envolve fazer um levantamento detalhado de todas as contas, incluindo valores, taxas de juros e prazos de pagamento.

Com todas as informações em mãos, é hora de elaborar um plano de ação. Priorize as dívidas com as maiores taxas de juros, pois são essas que crescem mais rapidamente, feito uma avalanche. Porém, uma alternativa viável é considerar a estratégia da bola de neve, onde você paga primeiro as menores dívidas para ganhar motivação.

Paralelamente, crie um orçamento detalhado e rigoroso, cortando gastos desnecessários e redirecionando o máximo possível de recursos para o pagamento das dívidas. Isso pode exigir sacrifícios temporários, mas é uma medida fundamental para alcançar a liberdade financeira.

Além disso, não hesite em negociar com seus credores para tentar obter melhores condições de pagamento. Muitas vezes, é possível reduzir taxas de juros ou conseguir prazos mais longos que facilitem a quitação da dívida.

Para não retornar ao estágio anterior de endividamento, é essencial adotar uma nova mentalidade em relação ao dinheiro. Isso inclui entender a importância de viver dentro das suas possibilidades, evitar o uso excessivo de crédito e cultivar o hábito de poupar e investir regularmente.

Para tanto, é preciso se envolver com educação financeira para entender melhor como o dinheiro funciona. Livros, cursos e consultorias podem fornecer conhecimentos valiosos que ajudarão a tomar decisões financeiras mais sábias.

Por fim, a liberdade financeira deve ser um objetivo compartilhado por toda a família. Envolver todos os membros no processo de quitação das dívidas garante apoio mútuo e entendimento sobre as prioridades. Conversas abertas sobre finanças podem evitar conflitos e fortalecer o compromisso com as novas práticas financeiras.



segunda-feira, 8 de julho de 2024

Renda ativa e renda passiva: a importância de investir em ativos que pagam dividendos

Renda ativa e renda passiva: a importância de investir em ativos que pagam dividendos

A geração de renda é um tema essencial para o bem-estar financeiro e pode ser dividida em duas modalidades principais: renda ativa e renda passiva. Ambas têm características e benefícios distintos, e compreender essas diferenças é essencial para uma estratégia financeira equilibrada e sustentável.

A renda ativa é obtida através do trabalho direto. Isso inclui salários, honorários e lucros provenientes de atividades profissionais. Por exemplo: as pessoas que trabalham para uma empresa recebem um salário fixo. Este tipo de renda é previsível e estável, mas geralmente limitado ao valor negociado no contrato de trabalho. Já os profissionais autônomos oferecem serviços ou produtos de maneira independente. A renda aqui pode variar bastante, dependendo da demanda e da capacidade do profissional em captar e manter clientes. Por fim, os empresários são donos de negócios que geram lucro através de suas empresas. A renda ativa de empresários pode ser significativa, mas também está atrelada a riscos e à necessidade de gestão eficiente.

A renda passiva, por outro lado, é aquela que o indivíduo pode obter sem a necessidade de trabalhar ativamente. Ela continua a ser gerada mesmo quando o sujeito está descansando ou dormindo. Um tipo de renda passiva difícil de obter está relacionado aos direitos autorais e patentes, relacionados a obras criativas como músicas, livros e filmes, ou invenções registradas, que podem ferramentas, máquinas, objetos de uso pessoal, softwares e hardwares, entre outros, que continuam a gerar receita enquanto forem utilizados.

Outra forma para receber renda passiva se dá pelos aluguéis, via locação de imóveis. Esse tipo de renda passiva pode proporcionar um fluxo de caixa constante, mas requer investimentos iniciais substanciais e gestão dos imóveis, algo distante de grande parte da população, que muitas vezes precisa de financiamentos de longo prazo para obter a casa própria.

Já os proventos das ações de empresas de capital aberto e cotas de fundos imobiliários, Fiagros e outros tipos de fundos de investimentos negociados em Bolsa de Valores, são ativos que muitas vezes são transacionados por valores acessíveis para qualquer pessoa com capacidade de poupar parte de sua renda ativa, além de permitir aportes regulares e gradativos.

Construir uma fonte de renda passiva é fundamental para a estabilidade e posterior independência financeira, no longo prazo. Investir em ativos geradores de renda passiva, especialmente via Bolsa de Valores, é uma forma acessível e eficaz de alcançar esse objetivo. A Bolsa de Valores permite que indivíduos comprem ações de empresas que pagam dividendos regularmente ou invistam em fundos que distribuem rendimentos periódicos.

Realizar aportes regulares nesses ativos é uma estratégia poderosa para aumentar gradualmente a renda passiva. Esse processo, conhecido como "acumulação de patrimônio", pode transformar pequenos investimentos em uma fonte substancial de renda ao longo do tempo, graças ao poder dos juros compostos. Assim, construir uma fonte sólida de renda passiva é fundamental para uma aposentadoria segura e independente da previdência social, que enfrenta desafios de sustentabilidade e insolvência em muitos países.

Sabemos que economizar dinheiro não é fácil na realidade brasileira, mas com foco e determinação isso é possível. É importante em primeiro lugar estar livre das dívidas, para poder formar uma reserva de emergências, para enfim poder aportar recursos em ativos geradores de renda passiva. Compreender a importância desses três passos é um grande diferencial na jornada que cada pessoa deve seguir, caso deseje ter um futuro mais tranquilo.



sexta-feira, 24 de maio de 2024

Suno e Ateliê da Escrita lançam os primeiros livros em Braille sobre investimentos no Brasil

Assistentes da B3 apresentam os primeiros livros em Braille da Suno, com Roberto Maluhy Jr, Professor Baroni, Maria Helena Chenque, Jean Tosetto e Tiago Reis ao centro.
Assistentes da B3 apresentam os primeiros livros em Braille da Suno, com Roberto Maluhy Jr, Professor Baroni, Maria Helena Chenque, Jean Tosetto e Tiago Reis ao centro.

O dia 21 de maio de 2024 ficará marcado na história da Suno e do Ateliê da Escrita, via selo AlfaBraille, pelo lançamento simultâneo e inédito, no Brasil, de dois livros sobre investimentos em Braille, acessíveis para não videntes.

O evento ocorreu durante o FIIExperience na sede da B3, a Bolsa de São Paulo, emocionando uma plateia de investidores, quando a Maria Helena Chenque, a revisora das versões em Braille de "101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes", de Tiago Reis e Felipe Tadewald, e "101 Perguntas e Respostas sobre Fundos Imobiliários, do Professor Baroni e Jean Tosetto (quem?), tomou a palavra, afirmando que passaria a estudar sobre FIIs para investir.

Mas essa história começou no ano passado, quando o Filipe Peres, consultor da Suno, ouviu que o Roberto Maluhy Jr, do Ateliê da Escrita, estava a frente do maior parque gráfico privado e especializado em livros Braille do mundo. Ele fez a ponte comigo, pois sou o responsável pelos livros da Suno.

Então, marcamos uma reunião aqui em Paulínia, na sede da Editora Vivalendo. Pensei em causar uma boa impressão (perdoem o trocadilho), os levando para almoçar no hotel mais chique da cidade. No meio do caminho perguntei se eles queriam conhecer a roça de verdade. Então saboreamos um filé de Tilápia a Parmegiana, num pesqueiro de conhecidos meus.

Roberto Maluhy Jr, Filipe Peres e Jean Tosetto na sede da Editora Vivalendo em Paulínia/SP.
Roberto Maluhy Jr, Filipe Peres e Jean Tosetto na sede da Editora Vivalendo em Paulínia/SP.

Quando gente apaixonada por livros senta numa mesa para conversar, a tarde avança feito ambulância cruzando o sinal vermelho.

Fiquei tocado pelos dados que o Roberto me passou, sobre a média de menos de um livro lido por ano por brasileiros alfabetizados. Já quem lê em Braille, devora mais de 20 livros no mesmo período.

A Suno não poderia ficar de fora dessa iniciativa. Com o aval do Fabio Humberg da Editora CL-A, demos início às versões em Braille dos primeiros livros do nosso acervo. O trabalho não para por aqui. Já estamos desenvolvendo o terceiro título.

Jean Tosetto, Roberto Maluhy Jr e Tiago Reis com os primeiros livros em Braille da Suno. Compare com a versão convencional nas mão direita do Jean.
Jean Tosetto, Roberto Maluhy Jr e Tiago Reis com os primeiros livros em Braille da Suno. Compare com a versão convencional nas mão direita do Jean. São necessários dois ou três volumes grandes na versão em Braille para equivaler a um livro simples de quase 150 páginas em formato A5.

Certa vez fiz um curso como arquiteto na Unicamp sobre acessibilidade universal. Tive que usar vendas nos olhos e tentar me locomover pelo ambiente. Aquilo me tocou. Mas o destino quis que eu pudesse voltar ao tema também com os livros, essa invenção mágica e maravilhosa que aproxima gente tão querida.

Veja também:

101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes (Amazon)

101 Perguntas e Respostas sobre Fundos Imobiliários (Amazon)

A Suno também é uma casa publicadora de livros

quinta-feira, 4 de abril de 2024

A casa amarela de Caçapava

"O que falar das pedras filetadas que adornam as empenas nas extremidades desse espaço de transição do exterior para o interior da casa?"

A Tia Marta fez 80 anos e sua festa de aniversário reuniu quase toda a família em Caçapava, distante 180 km de casa. Invertendo os papéis, levei meus pais, ao invés de ir com eles pela estrada afora.

Ainda assim, feito uma criança, não consegui ficar quieto, sentado numa mesa comprida, ouvindo histórias de gente que vi poucas vezes nos últimos anos.

Quando fico muito parado, meus pensamentos começam a acelerar. Aí preciso caminhar para colocar eles de volta na cadência. Assim, fui praticar um dos meus esportes prediletos: bater perna pelas ruas da cidade.

Perto da Matriz, vi essa casa amarela. O povo passa batido na frente dela e não se toca da elegância do projeto, provavelmente da década de 1960, quando ser requintado não significava estar algemado com a ostentação.

É uma casa simples, concordo, mas reparem na laje sobre o alpendre da sala, que se converte em abrigo de passagem para o carro da família. Ela não é plana, mas composta por um vértice bem suavizado, que coleta a água da chuva e a descarrega numa das quatro pilastras de ferro fundido, que ocupam o lugar do que seria um pilar de concreto robusto hoje em dia. Água que vai direto para a guia da calçada. Reparou nisso, também? E o que falar das pedras filetadas que adornam as empenas nas extremidades desse espaço de transição do exterior para o interior da casa?

Fiquei imaginando quantos netos já jogaram bola ali naquele corredor que liga o portão da rua até a edícula dos fundos.

O garotinho marca um gol chutando a bola de plástico com força, fazendo um "borolóing" na porta de enrolar da garagem que protege um Gordini - ou seria um DKW?

Mas ao invés de comemorar, ele leva uma bronca geral do vô, que tentava ler o Estadão no domingo de manhã, antes da macarronada.

A vó só ficava brava quando uma bola roçava no vaso com os hibiscos.

E quando a filha caçula saía para passear no sábado de noite? Os pais só dormiam quando escutavam o ruído do trinco encaixando na fechadura do portão.

Tenho que voltar para a festa. Perguntam por onde andei, pois estavam me esperando para tirar uma foto com todos os sobrinhos. Eles não jogam mais bola e não levam mais broncas - também não fotografam as casas singelas por aí.

Veja também:

Sobre dirigir um carro de madrugada

Cuidado ao se comparar com os outros

"O Aleph", por Jorge Luis Borges (Amazon)

terça-feira, 26 de março de 2024

Sobre dirigir um carro de madrugada

"Naquela ocasião, a lua cheia iluminou a janela traseira do veículo. No momento, passava a marcha quando começou a tocar "The man who sold the world". A chuva fina trazia um frio cortante para dentro da cabine."
"Naquela ocasião, a lua cheia iluminou a janela traseira do veículo. A chuva fina trazia um frio cortante para dentro da cabine."

Depois do quarto dia de uma onda de calor, as paredes da casa esquentam tanto que nem de madrugada elas se resfriam.

Também de madrugada a nossa vigília se converteu em consciência quando ouvimos um carro ainda longe, atritando seus pneus de borracha contra os remendos do asfalto da rua.

Quem está dirigindo nesse horário?

Vou até a cozinha tomar um copo d'água. Nem precisamos acender a luz, pois a companhia trocou as lâmpadas incandescentes dos postes por outras em LED.

Agora, na sala de estar, se não fechar a cortina, não dá para cochilar no sofá, onde os feixes de luz daquele carro que se aproxima nos aflora a lembrança de um tempo onde ouvíamos Nirvana no toca-fitas do velho Fusca azul.

Os amigos da faculdade organizaram uma festa numa chácara em Santa Bárbara D'Oeste, mas me senti deslocado. Nunca fui bom para me enturmar e fui embora mais cedo, mesmo com a insistência dos anfitriões para ficar.

No fundo, eu queria mesmo era dirigir meu carro, sozinho, no meio da noite, pela estrada quase deserta.

Naquela ocasião, a lua cheia iluminou a janela traseira do veículo. No momento, passava a marcha quando começou a tocar "The man who sold the world". A chuva fina trazia um frio cortante para dentro da cabine.

Só conseguia pensar que nunca venceria a minha timidez e dizer para aquela garota que faria tudo por ela. E algo me dizia que, cedo ou tarde, nunca mais a veria novamente.

Chegando na cidade, passei por um bairro residencial. Observava as casas e imaginava que haviam famílias dormindo ali. Quantos caras, como eu, encontraram garotas legais e se casaram com elas? Mas onde estaria a minha futura esposa?

Levaria anos para conhecê-la. Muito depois de fazer teatro amador para combater aquela timidez que eu sabia que deveria combater, até para sobreviver no mercado de trabalho.

Então, voltei para a cama. Passei pela porta do quarto da minha filha. Como ela consegue dormir com esse calor? Como ela é bonita... A espera valeu a pena.

Agora sou aquele pai de família.

Entretanto, antes de fechar os olhos novamente, sabia que parte de mim ainda estava naquele Fusca, correndo atrás de algo que nunca sei o que é. Talvez seja uma fome de viver intensamente.

Veja também:

Cuidado ao se comparar com os outros

O prazer de guiar um Miata

"O Sonho de Cipião" de Cícero (Amazon)

sábado, 2 de março de 2024

Cuidado ao se comparar com os outros

"Tem gente que entra numa corrida de uns contra os outros, colocando a vaidade no tanque de combustível."
"Tem gente que entra numa corrida de uns contra os outros, colocando a vaidade no tanque de combustível."

Você que ser comparar com alguém? Que seja para você ter uma referência positiva para crescer. De resto, esqueça. É mais importante sabermos de onde viemos, onde estamos agora e onde podemos chegar. É essa comparação que importa, pois ela deixa de lado o fator negativo da inveja.

Não se iluda: sempre tem alguém melhor do que você, naquilo que você faz de melhor.

Está com bronca de alguém que é campeão naquilo que você julga que sabe fazer bem? Converta a raiva que você sente por essa pessoa em admiração. 

Torça para ela melhorar, inclusive, pois assim, ela vai te mostrar o caminho para você melhorar também. 

No fim da jornada o que importa é isso: que você saia melhor dela do que quando entrou.

Portanto, não tente se comparar com algum líder em seu campo de atuação, com o mero objetivo de superá-lo.

Aprenda com essa pessoa. Se tiver que despertar um sentimento nela, que seja de reconhecimento, não de amargura. E se for para se comparar com alguém, faça isso com você mesmo: o você de hoje com o você de ontem.

Ninguém sabe de onde você partiu, mas só você sabe onde pode chegar.

Tem gente que entra numa corrida de uns contra os outros, colocando a vaidade no tanque de combustível. Resultado: todos perdem, pois fazer coisas apenas para impressionar os outros gera um gasto de energia desnecessário, que apenas alimenta algo parecido nas outras pessoas e volta para nós de forma cada vez mais radical.

A verdadeira jornada dessa vida implica em ser solidário com o próximo, para que todos cheguem bem na bandeirada final.

Ora aprendemos com os mais velhos. Ora somos referência para os mais jovens.

É um erro acreditar que os mais velhos não possuem nada para nos ensinar, uma vez que eles não foram jovens num mundo tão moderno como o nosso, pois certos ensinamentos são atemporais.

Não precisamos ter medo dos mais jovens. Eles aprendem rapidamente certas coisas ligadas à tecnologia, mas no fundo anseiam por orientações de nossa parte, para não cometerem os mesmos erros que nós cometemos.

Por exemplo? É de bom tom nos livrar da inveja e da vaidade. Basicamente é isso que toma conta de nós quando insistimos em nos comparar com os outros.

Olhar para dentro de nós mesmos não é egoísmo, se o foco estiver no autoconhecimento.

Confira esta mensagem no vídeo a seguir:

Veja também:

O prazer de guiar um Miata

O garçom haitiano

"Cartas de Um Estoico Volume I", por Sêneca (Amazon)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O prazer de guiar um Miata

O Miata literalmente recompensa o motorista que o trata com respeito.
O Miata literalmente recompensa o motorista que o trata com respeito.

Hoje fui pego de calças curtas, literalmente. Estava refestelado no sofá, terminando de ler "As paixões da alma" de Descartes e aprendendo a diferença entre remorso e arrependimento, quando escuto o ronco de um motor diferente cessando de funcionar na calçada. Era o meu amigo Nicoletti, de Itapetininga.

Neste fim de semana o Clube do Miata está completando 20 anos de fundação, num evento em Vinhedo, então ele fez uma barriga para me visitar aqui em Paulínia com seu Miata Mazda MX-5 de 1995. Miata significa "recompensa" em japonês.

Só deu tempo de calçar meu tênis de lona com solado liso, ideal para sentir os pedais de um carro esporte. O convite para dirigir um deles é irrecusável.

Fomos até a divisa do município com Americana e Cosmópolis, onde há uma estradinha com resquícios de uma época idílica, que combina com o estilo do carro.

Dirigimos o Miata praticamente sentado no assoalho, ajudando o centro de gravidade do conjunto a ficar bem perto do chão. Por isso, o veículo responde muito bem aos nossos comandos no volante, fazendo curvas como se estivéssemos deslizando por um trilho imantado.

O motor 1.8 de 4 cilindros não tem cavalos de sobra, apenas os cavalos suficientes para garantir a satisfação de guiar com o vento no rosto e o sol por testemunha. Ele não faz arrancadas brutais, mas não deixa a gente desesperançado numa ladeira. Vamos de boa, sabendo que se pisar no acelerador a resposta será imediata.

Por ter potência moderada, a composição do bloco do motor com o câmbio também é leve e, no fim das contas, é a leveza que nos entrega aquele espírito de esportividade, pois nos incentiva a tirar o que o carro tem de melhor para oferecer, como se estivéssemos montados num cavalo dócil, mas audacioso.

Essa sensação não é mera licença poética, mas algo ambicionado pelos projetistas do modelo. Ao menos foi isso que o Nicoletti me explicou, ao citar o termo "Jinba Ittai", expressão japonesa que descreve a relação simbiótica entre o cavalo e o cavaleiro. É essa harmonia próxima da perfeição que torna o carro tão divertido para guiar. Não por acaso, volante e alavanca de câmbio parecem extensões de nossos membros.

Queria estender o dia, mas isso o carro não faz.

Veja também:

Sobre a cadência para ler e escrever

"As paixões da alma" por René Descartes (Amazon)