Quem está olhando para o espelho? |
Coronaldo é dono de uma loja que vende produtos importados. Quase todos "Made in China". Apegado com sua família, ele raspou o dinheiro do caixa e foi conhecer Veneza, no norte da Itália. Passou uns dias também em Milão, pois sua esposa adora saber o que está na moda. Eles voltaram a tempo de pular o Carnaval no Brasil, no meio da multidão. Eles gostam de se definir como "gente do povo". Quando o ano finalmente começou, depois do meio dia da quarta-feira de cinzas, as notícias em todas as mídias tinham um assunto só: a tal da Pandemia do Coronavírus. Quando a TV mostrou caixões enfileirados numa igreja de Bérgamo, também na Itália, alguns governadores se anteciparam no Brasil, decretando quarentenas estaduais. Coronaldo fechou sua loja e correu para o supermercado. Lotou o carrinho de comida e produtos de limpeza. Os primeiros dias de confinamento autoimposto dentro de casa fluíram bem. Coronaldo até montou sua antiga pista de autorama para brincar com seu filho adolescente. Ao dedilhar a tela do smartphone veio a notícia ruim: o distanciamento social poderia durar bem mais do que uma quinzena. Talvez uns quatro meses. O intestino de Coronaldo ficou preso: bolachas demais e fibras de menos. Ele perdeu o sono. Seu banheiro começou a feder, então ele se lembrou da faxineira pela primeira vez. Lamentou por não saber cozinhar e não cobraria isso de sua esposa, que só sabe preparar Miojo. Seu cabelo, a propósito, começou a ficar estranho, com raízes brancas a desbotar o antes vigoroso louro com luzes. A grama no jardim ficou alta. Cadê o jardineiro? Também foi dispensado. Acabou a paciência para fazer a lição de casa com o caçula. As contas começaram a chegar: os aluguéis da loja e da casa, as mensalidades da escola, os salários vencidos dos funcionários. Coronaldo percebe que sua loja ficou sem capital de giro e decide mandar embora metade da equipe, mas não tem dinheiro para pagar as indenizações. Então, o presidente fala antes da vinheta do Jornal Nacional. Coronaldo entende que as pessoas precisam retornar ao trabalho, afinal de contas, isso é apenas uma "gripezinha" com um nome diferente. Patrioticamente, ele resolve voltar a ganhar dinheiro para ajudar na economia do país, além de ter prometido para a filha que ela passaria seu aniversário de 15 anos na Disney. Estima-se que 5 a 7 mil pessoas vão morrer de Covid-19 no Brasil - quase todos da terceira idade. E daí? Quantos brasileiros morrem de bala perdida por ano? Coronaldo escreve no grupo de WhatsApp da loja para seus empregados. Comunica que reabrirá as portas. Porém, o telefone toca: avisam que seu pai, com 73 anos, está entubado no hospital. O pai de Coronaldo será a vítima 624 do Coronavírus no Brasil. Seu corpo será cremado numa cerimônia sem a presença do padre, pois o prefeito proibiu aglomerações. Coronaldo não sabe mais o que fazer.
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ResponderExcluirA Crise é um elo entre infinitos
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Incríveis oportunidades, ideias e soluções
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E viabilizaram a história viva da humanidade
Desconstruções de verdades universais
A todo momento essas tentativas ocorrem
Valorizar a Verdade e o que é bom e virtuoso
Impede aos adeptos do quanto pior melhor
Desagregarem a Nação para submete-la
Aos seus desejos irracionais e corruptos
AHT
26/03/2020