segunda-feira, 31 de março de 2025

Agora é oficial: somos italianos de segunda classe

Um Tosetto dando a cara a tapa.
Um brasiliano dando a cara a tapa.

Você não tem obrigação de me conhecer, então me apresento: meu nome é Jean Tosetto, sou um arquiteto que se tornou escritor. Pelo meu sobrenome - e pelo idioma destas palavras - você pode deduzir que sou descendente de italianos que migraram para o Brasil. Sim, sou bisneto de italianos e austríacos por parte de pai, e bisneto de alemães e poloneses por parte de mãe. Porém, meu sangue é bem misturado. Nele você encontrará gotas do sangue de portugueses, africanos, nativos do Brasil, russos e ucranianos. Logo, eu só poderia ser brasileiro.

Porém, aprendi a amar a Itália desde pequeno. Meu avô paterno era torcedor do Palestra Itália e se tornou torcedor do Palmeiras em 1942, quando o ditador Getúlio Vargas publicou um decreto que, em resumo, considerava os cidadãos do chamado Eixo como inimigos da pátria. Deste modo, padeceram incontáveis italianos, alemães e japoneses, que viviam no Brasil e foram proibidos de falar a língua mãe em público. Empresários do Eixo tiveram que entregar seus negócios para administradores brasileiros, e associações esportivas e culturais, cujas denominações faziam referência aos países da tríade conhecida como Roberto (Roma, Berlim e Tóquio), tiveram que abrasileirar seus nomes ou desaparecer.

Eram os anos difíceis da Segunda Guerra Mundial. Mais difíceis para uns do que para outros. Meu bisavô italiano, de quem carrego o sobrenome Tosetto, perdeu a safra de laranja de seu sítio em 1942, pois o decreto de Getúlio Vargas desencadeou uma onda de ódio e preconceito contra imigrantes que vieram da Itália, Alemanha e Japão. Nenhum brasileiro comprou laranjas do meu bisavô italiano naquela safra, quando ele já contava com 77 anos de idade.

Porém, um brasileiro comprou o sítio por um valor abaixo do mercado. Meu bisavô passou os últimos anos de sua vida morando numa pequena casa no centro de Caçapava, recebendo o apoio de seus filhos. E ficou por isso mesmo: ninguém fala em dívida histórica com os imigrantes que escolheram viver no Brasil e pagaram um preço altíssimo apenas por terem nascido num país que, décadas depois, foi considerado um inimigo de Guerra.

Esse foi o prêmio que meu bisavô recebeu por ter acreditado que faria a América no Brasil, onde viveu por mais de meio século e, ainda assim, foi considerado persona non grata no país, por causa de um decreto de Vargas. Ele nasceu no Vêneto, em 1865, durante o período da unificação da Itália (1861 - 1871). Porém, ao contrário do que dizem por aí, ele não ganhou um palmo sequer de terra aqui no Brasil, mas comprou um sítio no interior de São Paulo com suas próprias economias, assim como tantos outros imigrantes italianos que vieram para cá no fim do século XIX e começo do século XX.

Já contei um pouco sobre mim e sobre meu avô e bisavô Tosetto. Preciso contar um pouco sobre meu pai. Em 1998 ele bancou minha viagem de estudos para a Itália, onde aprendi sobre a arquitetura renascentista e a arte em geral, visitando Roma, Firenze, Siena, Veneza. Mântua e Milão. Bem antes disso ele já falava, na mesa de jantar - sempre que o Jornal Nacional noticiava um caso de corrupção na política brasileira - que éramos descendentes de italianos e que tínhamos direito à cidadania italiana.

Meu pai começou a estudar o assunto, pois sempre foi um autodidata para estações de rádio amador, montagem de computadores e aprimoramentos de processos industriais. No começo dos anos 2000, apoiado por uma pesquisa prévia realizada por suas primas, que fizeram um trabalho de resgate da história da família e retificaram documentos importantes, ele foi atrás das certidões restantes de nossos antepassados: de batismo para os mais antigos (que valiam como certidões de nascimento), de casamento e de óbito de toda a linhagem direta da família.

Meu pai escreveu para o pároco de Noventa Vicentina, comuna onde meu bisavô nasceu. O padre localizou a certidão de batismo dele e, gentilmente, respondeu para o meu pai que, então, passou a traduzir os documentos brasileiros com ajuda de um patronato na cidade de Campinas. Tirando o auxílio desse patronato, meu pai fez tudo praticamente sozinho. Ele não contratou advogados ou assessorias especializadas. Levou anos para juntar a documentação e fez o protocolo para o reconhecimento da cidadania italiana no Consulado de São Paulo, em 2005. Ao todo, meu pai beneficiou 45 membros da família Tosetto.

Nós esperamos mais de dez anos na fila, até que o Consulado de São Paulo agendou a entrega final de documentos, já em meados de 2016. Para não se atrasar no dia, ele se hospedou num hotel da Avenida Paulista, a poucas quadras da Estação Paraíso. Fui com ele e testemunhei a data histórica para nossa família. Aquele foi um dos dias mais felizes das nossas vidas, quando a atendente do Consulado disse que tudo estava certo e que seria questão de algumas semanas para recebermos uma correspondência pelos Correios, formalizando o reconhecimento das nossas cidadanias.

Desde então, estive novamente no Consulado da Itália em São Paulo mais três vezes. A primeira com meu pai, que tinha procuração para representar alguns parentes na entrega de seus respectivos documentos. A segunda para solicitar o passaporte e a terceira para a naturalização da minha esposa, num processo que levou mais de quatro anos. Em todas as ocasiões, vestimos nossa melhor roupa: terno, calça social e sapato de couro. Desse modo, sempre fui tratado com respeito no Consulado, mesmo não sendo fluente na língua italiana. Entretanto, falei algumas palavras como:

- Buon giorno!

- Per favore...

- Grazie.

Mesmo quando tive o pedido do meu passaporte negado (pois faltava atualizar uma comprovação de endereço que estava em minhas mãos, mas tinha que ser enviada por carta registrada) fui tratado com educação, ao contrário do que ouvimos dizer por aí, que os funcionários do Consulado são grosseiros com os brasileiros.

Entretanto, vi uma senhorita levar um bela descompostura, bem na minha frente. Também pudera: ela foi ao Consulado vestindo moletom e pantufas. Deve ter falado alguma coisa que a atendente não gostou. Vi outras cenas e ouvi conversas que me fazem reconhecer que sim, existem brasilianos que não falam em "cidadania italiana", mas simplesmente em "tirar o passaporte". 

Portanto, é verdade: existem brasilianos que não querem saber da arquitetura e da arte renascentista da Itália, não querem saber quem é Da Vinci, Michelangelo, Alberti, Rafael, Brunelleschi, Dante. Eles estão mais interessados em ver Donald, Mickey e Pateta na Disneylândia, mas não querem chegar lá com o passaporte brasileiro, que exige visto por parte dos norte-americanos.

Por ironia do destino, fiz um projeto residencial para um casal italiano, cuja esposa trabalhava no Consulado de São Paulo. Eles vibraram quando descrevi os brasilianos que chegavam no Consulado tratando os funcionários como tratam qualquer um na rua, com aquela empáfia do "você sabe com quem está falando?"

Infelizmente nós, os brasilianos que realmente temos a Itália no coração, estamos pagando por aqueles que desejam apenas uma caderneta de papel com um brasão rebuscado. Querem o passaporte europeu, mais do que o italiano. Entretanto, o governo italiano, ao invés de aprimorar o procedimento para o reconhecimento da cidadania italiana, prefere tratar todos os descendentes de italianos, do Brasil e de outros países, como meros parasitas, para não usar um termo mais forte.

A maioria dos brasilianos é gente bem estabelecida no Brasil, sem a necessidade de usar os serviços de educação e saúde em solo italiano. Porém, todos na visão de Meloni e Tajani, ministros de uma Itália que se apequena a cada dia, são usurpadores em potencial dos recursos italianos. Para eles, o direito à cidadania em função do sangue, e não do solo, tem limite geracional. No entendimento deles, apenas filhos e netos de italianos nascidos nas Itália terão o direito ao reconhecimento da cidadania italiana. Então, danem-se os italianos bisnetos da diáspora.

Desse modo, sou um cidadão italiano, bisneto brasileiro de italiano nascido em solo italiano. Minha esposa é italiana e nossa filha é italiana. Mas se tivermos mais um filho ou se ganharmos netos no futuro, eles não serão mais italianos. Ou seja: Meloni e Tajani querem colocar prazo de validade na qualidade do sangue das pessoas. É isso que o decreto deles, de março de 2025, significa, pelo menos até que o parlamento italiano se manifeste.

Assim, eles não estão arranjando briga comigo. Afinal de contas, agora sou um italiano de segunda classe. Mas eles estão comprando bronca com o legado do apóstolo Paulo de Tarso e do jurista Marco Túlio Cícero, defensor máximo da República Romana, da qual a República Italiana é herdeira cultural e histórica.

O Ocidente é o Ocidente em função de São Paulo, nascido em Tarso, na atual Turquia, e não na península itálica. Porém, além de judeu, São Paulo era cidadão romano, por direito de sangue e não de solo. Acompanhe a seguinte passagem, de Atos dos Apóstolos, capítulo 22:

"25) Enquanto o amarravam a fim de açoitá-lo, Paulo disse ao centurião que ali estava: "Vocês têm o direito de açoitar um cidadão romano sem que ele tenha sido condenado? "

26) Ao ouvir isso, o centurião foi prevenir o comandante: "Que vais fazer? Este homem é cidadão romano".

27) O comandante dirigiu-se a Paulo e perguntou: "Diga-me, você é cidadão romano? " Ele respondeu: "Sim, sou".

28) Então o comandante disse: "Eu precisei pagar um elevado preço por minha cidadania". Respondeu Paulo: "Eu a tenho por direito de nascimento".

29) Os que iam interrogá-lo retiraram-se imediatamente. O próprio comandante ficou alarmado, ao saber que havia prendido um cidadão romano."

Salientando: São Paulo de Tarso era cidadão romano por direito de nascimento. Por isso, ele pôde apelar para Cesar ao ser acusado de corromper as crenças de seu tempo e, por isso, foi levado à Roma. E por isso, cada município brasileiro e italiano tem ao menos uma igreja cristã na principal praça da cidade.

E o que dizer de Cícero, que relatou o Sonho de Cipião, um capítulo fundamental para compreendermos a cultura italiana que permitiu ao cristianismo se difundir para o mundo a partir de Roma? Segue uma passagem atribuída por Cícero ao bravo militar romano:

"E ao olhar para todos os lados, vi outras coisas transcendentalmente gloriosas e maravilhosas. Havia estrelas que nunca vemos daqui de baixo, e todas as estrelas eram imensas, muito além do que jamais imaginamos. A menor delas era aquela que, mais distante do céu e mais próxima da Terra, brilhava com uma luz emprestada. Mas os globos estrelados superavam em muito a Terra em magnitude. Na verdade, a própria Terra me pareceu tão pequena que me fez sentir vergonha de nosso império, que era um mero ponto em sua superfície."

Está na hora de Meloni e Tajani relerem o Sonho de Cipião. A Itália, geograficamente, ocupa uma pequena porção do universo, mas a cultura italiana tem poder para abraçar o mundo, embora este mundo seja apenas mais uma esfera a girar num sistema muito maior do que podemos conceber. Então, limitar o direito de cidadania ao neto de quem nasceu na península itálica é diminuir uma nação em termos históricos, algo muito mais importante do que o aspecto geográfico. Assim, a história vai ignorar a geografia e colocar Meloni e Tajani no mesmo panteão de Vargas, que encerrou sua vida disparando uma pistola contra o próprio peito.

O que resta para nós, cidadãos de segunda classe? Honrar a memória e o esforço dos nossos antepassados. Pouco importa se eles eram italianos, poloneses, africanos ou nativos do Brasil. Nossa família vem acima das pátrias, pois as pátrias, vilipendiadas por ocupantes transitórios do poder, já nos desampararam outras vezes. Porém, numa família honrada, pais cuidam de seus filhos e filhos acolhem seus pais quando chega a adversidade. Sempre foi assim e será assim que sobreviveremos aos desgostos provocados pelas convenções passageiras de gente que se acha mais importante do que os outros.

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Sou um cristoico

Como nasce uma carta? (Quatro atos)

São Paulo não foi cancelado pelos epicureus e estoicos

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Sou um cristoico

Paulo de Tarso dialoga com os estoicos no Areópago de Atenas (imagem gerada por I.A.).
Paulo de Tarso dialoga com os estoicos no Areópago de Atenas (imagem gerada por I.A.).

Você já perdeu um parente ou amigo que foi embora cedo demais? Eu já. Vários no mesmo dia. Por isso comecei a ler a Bíblia. Queria saber o que acontece com a alma das pessoas depois que elas se libertam ou são arrancadas de seus corpos.

Não encontrei muita coisa detalhada e clara a respeito do além vida, mas descobri na Bíblia uma espécie de manual de sobrevivência aqui na Terra. Depois de ler o Novo Testamento pela segunda ou terceira vez, reparei numa passagem de Atos dos Apóstolos, quando Paulo de Tarso - o santo judeu e cidadão romano que introduziu o cristianismo no seio da Europa - dialogou com os estoicos e epicuristas no Areópago de Atenas. Ao fim daquela conversa, nenhum jogou pedras nos outros.

Foi a senha para começar a ler os estoicos. Sêneca. Epicteto, Marco Aurélio, Cícero. Li também o que sobrou de Epicuro para os nossos tempos. Então, aquela angústia que eu sentia sempre que ia dormir e lembrava dos acontecimentos trágicos de outrora finalmente estava sendo aplacada.

Continuo sendo um cristão num mundo que trata os cristãos como gente ignorante e supersticiosa. Mas aprendi a ser estoico numa mundo que distorce o estoicismo para que os incautos possam suportar o que não precisa ser suportado: uma vida medíocre baseada em trabalho sem descanso.

Do mesmo modo que sou um cristão crítico, que não se conforma com o nome de Jesus sendo usado para enriquecimento ilícito e venda de cursos sobre empreendedorismo, investimentos e prosperidade; sou um estoico crítico, que não segue autores que coam o café pela terceira vez, se apropriando de ideais clássicas, as repaginando como novidades reveladoras.

Ao contrário dos fanáticos, que só leem a Bíblia e nada mais, estou aberto aos demais clássicos. Venho incluindo a filosofia oriental neste caldo de referências. Deus não vai mandar para o Inferno quem ler os textos clássicos que não figuram nos livros sagrados para os cristãos. 

Se deixarmos os dogmas teológicos de lado, elaborados além do que está escrito nas escrituras sagradas, veremos que não há conflitos insuperáveis entre o cristianismo e o estoicismo. O que o primeiro faz pelo lado espiritual e sagrado, o segundo faz pelos aspectos mundanos que não podemos ignorar.

Desse modo, não me importo em ser rotulado como um cristoico. Que pensem que sou um supersticioso. Que pensem que sou um refém de livros baratos de autoajuda numa época em que a filosofia acadêmica foi sequestrada pelo marxismo e ainda não se desgarrou dele por completo.

Ser um cristoico significa não saber exatamente quem você é, mas significa que você está se empenhando para descobrir.

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Sobre estoicismo e capitalismo (Amazon)

Como nasce uma carta? (Quatro atos)

O último aplauso

domingo, 5 de janeiro de 2025

Como nasce uma carta? (Quatro atos)

Carta para ficar bem - por Jean Tosetto
Clique na imagem acima para acessar a loja da Amazon.

I - No ano que passou, minha esposa perdeu um primo aos 48 anos. Minha idade. Ele era magro e forte, ativo. Teve uma parada cardíaca. Deixou esposa e filhos. "Pode acontecer com qualquer um, inclusive comigo" - pensei.

II - Um meliante tentou invadir nossa casa, sem sucesso. Mas danificou portas e janelas e literalmente depredou meu carro antigo e importado. Quando o vizinho alertou isso pelo telefone, imaginei que ficaria transtornado ao ver os estragos. Mas não, "são apenas coisas, ainda bem que ninguém se feriu, vamos arrumar tudo".

III - Minha esposa e filha foram viajar com meus sogros. Pela primeira vez em 15 anos de casamento, passei uma semana sozinho, trabalhando de dia e conversando comigo mesmo de noite, ouvindo os próprios pensamentos sobre a vida e como ela poderia ser de agora em diante. Como seria se estas ausências fossem para sempre?

IV - Veio o recesso de fim de ano na empresa. O dinheiro do passeio foi gasto para arrumar a casa e o carro, que só tem seguro para terceiros. Metódico, não ia desfalcar nossa reserva de emergências só para atender o impositivo social de fornecer algumas fotos em lugares exóticos aos amigos e parentes. "Vou aproveitar a folga para escrever uma carta para minha filha".

E assim nasceu a "Carta para ficar bem". Trata-se de um documento onde condensei boa parte daquilo que pretendia contar para minha filha ao longo dos anos, vislumbrando que posso não ter essa chance. Escrevi sobre escola, faculdade, carreira, namoro, casamento, filhos, amigos, viagens, saúde, casa. Terminei transmitindo minha visão de mundo e o que pode existir além dele.

Foi uma carta para minha filha, tanto que usei na capa um desenho que ela fez aos cinco anos. Porém, é uma carta aberta. Tanto que a disponibilizei como um e-book publicado na Amazon. Fica o convite para você ler e eventualmente me responder.

Veja também:

Carta para ficar bem (Amazon)

Viver com dívidas é como viver numa prisão

Renda ativa e renda passiva: a importância de investir em ativos que pagam dividendos

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Viver com dívidas é como viver numa prisão

Viver com dívidas é como viver numa prisão

As dívidas podem ser comparadas a correntes invisíveis que aprisionam as pessoas, limitando suas possibilidades e criando um peso constante que impede o progresso e a realização pessoal. Assim como correntes físicas, as dívidas impõem restrições severas ao movimento financeiro, criando uma sensação de sufocamento e desesperança.

A jornada rumo à liberdade financeira começa pela resolução das dívidas. Isso exige não apenas uma mudança de comportamento, mas também a compreensão do papel dos juros compostos. Quando estamos endividados, os juros compostos trabalham contra nós, aumentando continuamente o montante devido e tornando cada vez mais difícil sair do buraco financeiro. Por outro lado, quando estamos livres de dívidas e começamos a investir, os juros compostos podem ser nossos aliados, aumentando nosso patrimônio de maneira exponencial ao longo do tempo.

O primeiro passo para resolver problemas com dívidas é reconhecer a extensão delas e aceitar a necessidade de mudança. Isso envolve fazer um levantamento detalhado de todas as contas, incluindo valores, taxas de juros e prazos de pagamento.

Com todas as informações em mãos, é hora de elaborar um plano de ação. Priorize as dívidas com as maiores taxas de juros, pois são essas que crescem mais rapidamente, feito uma avalanche. Porém, uma alternativa viável é considerar a estratégia da bola de neve, onde você paga primeiro as menores dívidas para ganhar motivação.

Paralelamente, crie um orçamento detalhado e rigoroso, cortando gastos desnecessários e redirecionando o máximo possível de recursos para o pagamento das dívidas. Isso pode exigir sacrifícios temporários, mas é uma medida fundamental para alcançar a liberdade financeira.

Além disso, não hesite em negociar com seus credores para tentar obter melhores condições de pagamento. Muitas vezes, é possível reduzir taxas de juros ou conseguir prazos mais longos que facilitem a quitação da dívida.

Para não retornar ao estágio anterior de endividamento, é essencial adotar uma nova mentalidade em relação ao dinheiro. Isso inclui entender a importância de viver dentro das suas possibilidades, evitar o uso excessivo de crédito e cultivar o hábito de poupar e investir regularmente.

Para tanto, é preciso se envolver com educação financeira para entender melhor como o dinheiro funciona. Livros, cursos e consultorias podem fornecer conhecimentos valiosos que ajudarão a tomar decisões financeiras mais sábias.

Por fim, a liberdade financeira deve ser um objetivo compartilhado por toda a família. Envolver todos os membros no processo de quitação das dívidas garante apoio mútuo e entendimento sobre as prioridades. Conversas abertas sobre finanças podem evitar conflitos e fortalecer o compromisso com as novas práticas financeiras.



segunda-feira, 8 de julho de 2024

Renda ativa e renda passiva: a importância de investir em ativos que pagam dividendos

Renda ativa e renda passiva: a importância de investir em ativos que pagam dividendos

A geração de renda é um tema essencial para o bem-estar financeiro e pode ser dividida em duas modalidades principais: renda ativa e renda passiva. Ambas têm características e benefícios distintos, e compreender essas diferenças é essencial para uma estratégia financeira equilibrada e sustentável.

A renda ativa é obtida através do trabalho direto. Isso inclui salários, honorários e lucros provenientes de atividades profissionais. Por exemplo: as pessoas que trabalham para uma empresa recebem um salário fixo. Este tipo de renda é previsível e estável, mas geralmente limitado ao valor negociado no contrato de trabalho. Já os profissionais autônomos oferecem serviços ou produtos de maneira independente. A renda aqui pode variar bastante, dependendo da demanda e da capacidade do profissional em captar e manter clientes. Por fim, os empresários são donos de negócios que geram lucro através de suas empresas. A renda ativa de empresários pode ser significativa, mas também está atrelada a riscos e à necessidade de gestão eficiente.

A renda passiva, por outro lado, é aquela que o indivíduo pode obter sem a necessidade de trabalhar ativamente. Ela continua a ser gerada mesmo quando o sujeito está descansando ou dormindo. Um tipo de renda passiva difícil de obter está relacionado aos direitos autorais e patentes, relacionados a obras criativas como músicas, livros e filmes, ou invenções registradas, que podem ferramentas, máquinas, objetos de uso pessoal, softwares e hardwares, entre outros, que continuam a gerar receita enquanto forem utilizados.

Outra forma para receber renda passiva se dá pelos aluguéis, via locação de imóveis. Esse tipo de renda passiva pode proporcionar um fluxo de caixa constante, mas requer investimentos iniciais substanciais e gestão dos imóveis, algo distante de grande parte da população, que muitas vezes precisa de financiamentos de longo prazo para obter a casa própria.

Já os proventos das ações de empresas de capital aberto e cotas de fundos imobiliários, Fiagros e outros tipos de fundos de investimentos negociados em Bolsa de Valores, são ativos que muitas vezes são transacionados por valores acessíveis para qualquer pessoa com capacidade de poupar parte de sua renda ativa, além de permitir aportes regulares e gradativos.

Construir uma fonte de renda passiva é fundamental para a estabilidade e posterior independência financeira, no longo prazo. Investir em ativos geradores de renda passiva, especialmente via Bolsa de Valores, é uma forma acessível e eficaz de alcançar esse objetivo. A Bolsa de Valores permite que indivíduos comprem ações de empresas que pagam dividendos regularmente ou invistam em fundos que distribuem rendimentos periódicos.

Realizar aportes regulares nesses ativos é uma estratégia poderosa para aumentar gradualmente a renda passiva. Esse processo, conhecido como "acumulação de patrimônio", pode transformar pequenos investimentos em uma fonte substancial de renda ao longo do tempo, graças ao poder dos juros compostos. Assim, construir uma fonte sólida de renda passiva é fundamental para uma aposentadoria segura e independente da previdência social, que enfrenta desafios de sustentabilidade e insolvência em muitos países.

Sabemos que economizar dinheiro não é fácil na realidade brasileira, mas com foco e determinação isso é possível. É importante em primeiro lugar estar livre das dívidas, para poder formar uma reserva de emergências, para enfim poder aportar recursos em ativos geradores de renda passiva. Compreender a importância desses três passos é um grande diferencial na jornada que cada pessoa deve seguir, caso deseje ter um futuro mais tranquilo.



sexta-feira, 24 de maio de 2024

Suno e Ateliê da Escrita lançam os primeiros livros em Braille sobre investimentos no Brasil

Assistentes da B3 apresentam os primeiros livros em Braille da Suno, com Roberto Maluhy Jr, Professor Baroni, Maria Helena Chenque, Jean Tosetto e Tiago Reis ao centro.
Assistentes da B3 apresentam os primeiros livros em Braille da Suno, com Roberto Maluhy Jr, Professor Baroni, Maria Helena Chenque, Jean Tosetto e Tiago Reis ao centro.

O dia 21 de maio de 2024 ficará marcado na história da Suno e do Ateliê da Escrita, via selo AlfaBraille, pelo lançamento simultâneo e inédito, no Brasil, de dois livros sobre investimentos em Braille, acessíveis para não videntes.

O evento ocorreu durante o FIIExperience na sede da B3, a Bolsa de São Paulo, emocionando uma plateia de investidores, quando a Maria Helena Chenque, a revisora das versões em Braille de "101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes", de Tiago Reis e Felipe Tadewald, e "101 Perguntas e Respostas sobre Fundos Imobiliários, do Professor Baroni e Jean Tosetto (quem?), tomou a palavra, afirmando que passaria a estudar sobre FIIs para investir.

Mas essa história começou no ano passado, quando o Filipe Peres, consultor da Suno, ouviu que o Roberto Maluhy Jr, do Ateliê da Escrita, estava a frente do maior parque gráfico privado e especializado em livros Braille do mundo. Ele fez a ponte comigo, pois sou o responsável pelos livros da Suno.

Então, marcamos uma reunião aqui em Paulínia, na sede da Editora Vivalendo. Pensei em causar uma boa impressão (perdoem o trocadilho), os levando para almoçar no hotel mais chique da cidade. No meio do caminho perguntei se eles queriam conhecer a roça de verdade. Então saboreamos um filé de Tilápia a Parmegiana, num pesqueiro de conhecidos meus.

Roberto Maluhy Jr, Filipe Peres e Jean Tosetto na sede da Editora Vivalendo em Paulínia/SP.
Roberto Maluhy Jr, Filipe Peres e Jean Tosetto na sede da Editora Vivalendo em Paulínia/SP.

Quando gente apaixonada por livros senta numa mesa para conversar, a tarde avança feito ambulância cruzando o sinal vermelho.

Fiquei tocado pelos dados que o Roberto me passou, sobre a média de menos de um livro lido por ano por brasileiros alfabetizados. Já quem lê em Braille, devora mais de 20 livros no mesmo período.

A Suno não poderia ficar de fora dessa iniciativa. Com o aval do Fabio Humberg da Editora CL-A, demos início às versões em Braille dos primeiros livros do nosso acervo. O trabalho não para por aqui. Já estamos desenvolvendo o terceiro título.

Jean Tosetto, Roberto Maluhy Jr e Tiago Reis com os primeiros livros em Braille da Suno. Compare com a versão convencional nas mão direita do Jean.
Jean Tosetto, Roberto Maluhy Jr e Tiago Reis com os primeiros livros em Braille da Suno. Compare com a versão convencional nas mão direita do Jean. São necessários dois ou três volumes grandes na versão em Braille para equivaler a um livro simples de quase 150 páginas em formato A5.

Certa vez fiz um curso como arquiteto na Unicamp sobre acessibilidade universal. Tive que usar vendas nos olhos e tentar me locomover pelo ambiente. Aquilo me tocou. Mas o destino quis que eu pudesse voltar ao tema também com os livros, essa invenção mágica e maravilhosa que aproxima gente tão querida.

Veja também:

101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes (Amazon)

101 Perguntas e Respostas sobre Fundos Imobiliários (Amazon)

A Suno também é uma casa publicadora de livros

quinta-feira, 4 de abril de 2024

A casa amarela de Caçapava

"O que falar das pedras filetadas que adornam as empenas nas extremidades desse espaço de transição do exterior para o interior da casa?"

A Tia Marta fez 80 anos e sua festa de aniversário reuniu quase toda a família em Caçapava, distante 180 km de casa. Invertendo os papéis, levei meus pais, ao invés de ir com eles pela estrada afora.

Ainda assim, feito uma criança, não consegui ficar quieto, sentado numa mesa comprida, ouvindo histórias de gente que vi poucas vezes nos últimos anos.

Quando fico muito parado, meus pensamentos começam a acelerar. Aí preciso caminhar para colocar eles de volta na cadência. Assim, fui praticar um dos meus esportes prediletos: bater perna pelas ruas da cidade.

Perto da Matriz, vi essa casa amarela. O povo passa batido na frente dela e não se toca da elegância do projeto, provavelmente da década de 1960, quando ser requintado não significava estar algemado com a ostentação.

É uma casa simples, concordo, mas reparem na laje sobre o alpendre da sala, que se converte em abrigo de passagem para o carro da família. Ela não é plana, mas composta por um vértice bem suavizado, que coleta a água da chuva e a descarrega numa das quatro pilastras de ferro fundido, que ocupam o lugar do que seria um pilar de concreto robusto hoje em dia. Água que vai direto para a guia da calçada. Reparou nisso, também? E o que falar das pedras filetadas que adornam as empenas nas extremidades desse espaço de transição do exterior para o interior da casa?

Fiquei imaginando quantos netos já jogaram bola ali naquele corredor que liga o portão da rua até a edícula dos fundos.

O garotinho marca um gol chutando a bola de plástico com força, fazendo um "borolóing" na porta de enrolar da garagem que protege um Gordini - ou seria um DKW?

Mas ao invés de comemorar, ele leva uma bronca geral do vô, que tentava ler o Estadão no domingo de manhã, antes da macarronada.

A vó só ficava brava quando uma bola roçava no vaso com os hibiscos.

E quando a filha caçula saía para passear no sábado de noite? Os pais só dormiam quando escutavam o ruído do trinco encaixando na fechadura do portão.

Tenho que voltar para a festa. Perguntam por onde andei, pois estavam me esperando para tirar uma foto com todos os sobrinhos. Eles não jogam mais bola e não levam mais broncas - também não fotografam as casas singelas por aí.

Veja também:

Sobre dirigir um carro de madrugada

Cuidado ao se comparar com os outros

"O Aleph", por Jorge Luis Borges (Amazon)