A árvore estava quieta em seu lugar. O ser humano, munido de escada, óculos protetores, luvas de feltro, botinas com bicos de aço e uma motosserra, se aproximou sem fazer perguntas. Ele não perguntou se a árvore queria ter sua copa estraçalhada. Ele simplesmente a estraçalhou.
É o que ele sabe fazer.
Porém, a árvore respondeu. Não com palavras. Não com gritos. Com teimosia. Com a única coisa que uma árvore sabe fazer: seguir o fluxo da vida. Dos ramos amputados, brotaram novos galhos e novas folhas. A clorofila ajuda a curar a sangria da seiva.
Então, o ser humano planeja fazer uma nova visita para a árvore. Disseram que ele pode ir até ela com um balde de óleo de motor de dois tempos, devidamente queimado por motocicletas que não são motosserras.
Um palito de fósforo dará a extrema unção. O velório da árvore, sem velas e sem testemunhas, ocorrerá durante toda a madrugada, concomitantemente com a cerimônia de cremação. Se não destocarem a árvore, se não extraírem suas raízes do solo, ela brotará de novo, lá de baixo.
É o que ela sabe fazer.
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