Colagem do autor realizada por volta de 1996. |
Se existe um estilo musical ligado ao inconformismo é o Rock’n’Roll, que surgiu entre os jovens rebeldes dos Estados Unidos na década de 1950, mesclando referências de Country, Jazz, Blues, R&B, Soul e Gospel. Músicos como Chuck Berry, Little Richard e Elvis Presley adicionaram uma atitude provocativa nesse caldo cultural, que entornou sobre a primeira geração após a Segunda Guerra Mundial.
Considerado como moda passageira entre os críticos musicais de seus primórdios, o Rock, assim como o capitalismo, foi sobrevivendo às sucessivas crises, incorporando novas referências e se reinventando a cada ciclo. Com o passar das décadas, o Rock deixou de ser música de adolescentes para ser refúgio de inconformistas de várias faixas etárias.
E o que não é um investidor de longo prazo senão um sujeito inconformado? Quem compra ações na Bolsa, de forma sistemática, não está conformado com sua atual condição financeira. O sonho da liberdade, exaltado nos riffs de guitarras elétricas, motiva tanto os roqueiros quanto os investidores.
Livrar-se de um emprego chato, por exemplo, é mote para um bom Rock’n’Roll, assim como é a motivação para alguém que investe com foco na obtenção de renda passiva. Portanto, falar de dinheiro em canções de Rock nunca será uma contradição, como alguns sociólogos sisudos querem fazer crer.
A prova disso é que, ainda nos primeiros acordes do Rock, o dinheiro já figurava inclusive nos títulos de grandes sucessos: “Money (That's What I Want)” foi gravada por Barrett Strong em 1959. Talvez você nunca tenha ouvido falar dele antes, mas os Beatles regravaram esta música em 1963 para concluir um álbum, pouco antes de estourar a Beatlemania nos Estados Unidos. Aqui você confere a versão original deste clássico do Rock:
Mas não fique triste, se você curte Beatles. Deles vamos resgatar uma faixa menos conhecida da banda (como se fosse possível classificar alguma música do quarteto de Liverpool deste modo). De 1969 e do último álbum de estúdio gravado pelos Beatles, “Abbey Road”, destacamos “You Never Give Me Your Money”. Deste modo, fica claro como o Rock evoluiu em apenas dez anos:
Com a chegada da década de 1970 o mundo conheceu o Rock Progressivo, com seus solos de guitarra intermináveis e compositores chegados num papo cabeça. O Rock, como instrumento de contracultura, é contaminado pelo discurso ideológico. Em 1973, Roger Waters compõe “Money” para o oitavo disco do Pink Floyd, “The Dark Side of the Moon”:
Já nos anos de 1980, os hippies eram personagens anacrônicos. No lugar deles entram em cena os yuppies. O termo “YUP” em inglês significa “profissional jovem urbano” e define uma geração mais cética e conservadora que, ao invés de viver sob o slogan de paz e amor, quer mesmo é o progresso material, sem remorsos. O Rock sai das ondas do rádio e invade as telas da MTV com Dire Straits revolucionando a linguagem dos clipes com “Money For Nothing”, de 1985:
No limiar da década de 1990, que para muitos foi a última época na qual o Rock foi um gênero realmente popular, antes de sucumbir para a música eletrônica feita para consumo de massa, os metaleiros australianos do AC/DC emplacam “Moneytalks”, do álbum “The Razors Edge”. Um som para inconformista nenhum botar defeito:
Logicamente, os brasileiros não poderiam ficar de fora. Aqui também se faz Rock’n’Roll – e dos bons. Vamos deixar a política de lado para poder reconhecer o valor de grandes músicos, afinal de contas, quem gosta de boa música escuta de Chico Buarque até Ultraje a Rigor, sem neuras. O primeiro disco deles, de 1985, é antológico: “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, de onde pinçamos “Mim Quer Tocar”:
Quer nome de banda mais alinhado com o investidor da Bolsa de São Paulo do que Capital Inicial? E se a gente lembrar que o vocalista se chama Dinho Ouro Preto? Já prestou atenção na letra de “Não Olhe Pra Trás”, de 2008?
Parece que essa música foi escrita para quem comprou ações de uma empresa que pagava ótimos dividendos, mas que subitamente fechou o capital. Confira:
“Nem tudo é como você quer. Nem tudo pode ser perfeito.”
Se você já se cadastrou para receber várias newsletters sobre investimentos, precisa ouvir esta sequência:
“Se o que é errado ficou certo, as coisas são como elas são. Se a inteligência ficou cega de tanta informação.”
E aqui parece um especialista em Valuation cantando:
“Se não faz sentido, discorde comigo, não é nada demais. São águas passadas, escolha uma estrada e não olhe, não olhe pra trás.”
Chega! Você nunca mais vai ouvir esta canção do mesmo jeito:
Não custa lembrar que dinheiro é bom, mas que ficar obcecado por ele não é. A não ser que você queira abrir mão do espírito do Rock’n’Roll para ser uma pessoa muito bem respeitada na sociedade: o perfeito almofadinha que investe na Bolsa, retratado pela banda The Kinks em “A Well Respected Man”, de 1965:
Esta pequena lista de músicas sobre dinheiro não esgota o assunto. Se quiser, deixe nos comentários algum sucesso que ficou de fora. Dinheiro e Rock’n’Roll: quanto mais, melhor.
Veja também:
Meu primeiro show: Ultraje a Rigor em Paulínia, 1990
Sem protesto não há juventude
Bob "Nobel" Dylan
Vivalendo.com recomenda:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O seu comentário construtivo será bem vindo. Não publicaremos ofensas pessoais ou dirigidas para qualquer entidade. EVITE ESCREVER SOMENTE COM MAIÚSCULAS. Não propague spam. Links e assuntos não relacionados ao tema da postagem serão recusados. Não use termos chulos ou linguagem pejorativa.