sábado, 21 de agosto de 2021

As forquilhas do destino

Quantas bifurcações, quantas forquilhas, quantas possibilidades.
Quantas bifurcações, quantas forquilhas, quantas possibilidades.

Tem algo nas árvores que me fascina e não sei explicar exatamente o motivo. Sei que não estou sozinho nesta indagação. Logicamente, as árvores são repletas de simbolismo e, sem a sombra delas, a humanidade simplesmente não teria se desenvolvido.

As árvores fornecem madeira para móveis e edificações. As mais belas portas e janelas são feitas com madeiras nobres. Além disso, boa parte delas nos dão frutos, que são alimentos para o nosso corpo e o nosso espírito. Foi comendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal que Adão e Eva foram parar na Bíblia, uma coleção de livros cujo papel vem das árvores.

Lar para os pássaros, animais livres que nelas fazem seus ninhos, as árvores também fornecem lenha para cozinhar no sertão e para aquecer os lares nas noites mais frias. Será que é por isso que chamamos a lareira de lareira?

Ao contrário de nós, as árvores não podem se mover por conta própria. Elas não podem caminhar. Não podem peregrinar. Não podem viajar. Não podem escolher entre um caminho ou outro. Diante de uma bifurcação, elas não precisam escolher entre a esquerda e a direita. 

Porém, as árvores são repletas de bifurcações. Seus troncos se convertem em ramos, que se convertem em galhos, que sustentam as folhas. Observe uma folha de perto: ela é feita basicamente de ramificações. Deste modo, se uma árvore não pode escolher entre uma possibilidade e outra, ela se realiza dentre todas as suas possibilidades. Uma árvore constrói todos os seus caminhos dentro de si mesma e os percorre todos, o tempo todo, com a sua seiva.

Ao contrário da seiva, nós só podemos seguir por uma direção. Quer dizer, até podemos voltar atrás, mas nossas vidas não foram concebidas como um circuito fechado. Nossa viagem, assim como o tempo que interpretamos, tende a ser linear. Por isso, diferentemente das árvores, somos repletos de dúvidas, sempre que a vida nos apresenta uma bifurcação no meio da jornada.

- Bato o pênalti no alto ou chuto rasteiro?

- Faço um intercâmbio ou vou direto para a faculdade?

- Presto vestibular para jornalismo ou arquitetura?

- Procuro um emprego ou começo um negócio próprio?

- Digo que a amo ou faço o cara durão? 

- Caso ou compro uma bicicleta?

- Aporto nas ações da Taesa ou da Itaúsa?

Existem alguns momentos chaves em nossas vidas, cuja decisão binária muda completamente o nosso rumo no futuro. Quando conseguimos isolar esse momento de dúvida cristalina, é como se serrássemos uma bifurcação de uma árvore para compor uma forquilha. É com uma forquilha de madeira que os garotos da roça fazem seus estilingues. Com um pedaço de tripa de mico e um recorte de couro este brinquedo de caráter altamente filosófico está pronto.

Nós tendemos a pensar que devemos considerar uma possibilidade ou outra, quando chegamos num momento de indecisão, quer seja, numa bifurcação. Nessas horas lembre de um reles estilingue: a sua forquilha funciona como uma mira.

Então, para não sucumbir no vacilo entre A ou B, preto ou branco, quente ou frio; temos que ter um alvo, um propósito de vida, e a partir desse propósito devemos nortear nossas decisões. Inevitavelmente a dúvida e o questionamento fazem parte deste processo. São as grandes dúvidas e questionamentos que nos impulsionam para frente e para o alto. Essa é a função da tripa de mico elástica e do courinho na ponta oposta da forquilha.

No fim das contas, somos como pedras arremessadas, rolando por aí. Like a rolling stone.

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