sábado, 20 de julho de 2019

O colecionador de ativos financeiros

The Spirit: personagem criado por Will Eisner em 1940.
The Spirit: personagem criado por Will Eisner em 1940.

Você vai até a lanchonete famosa e a criança pede um mini lanche alegre, que vem com um brinquedinho para colecionar. O marketing sabe explorar essa vontade natural das pessoas para juntar coisas. Que bom seria se as pessoas fossem mais incentivadas a colecionar ações.

As crianças que estão crescendo com tablets nas mãos talvez não se interessem muito por colecionar gibis. Porém, quando eu era garoto no ainda analógico mundo do século XX, as histórias em quadrinhos faziam parte do meu universo. Credito à estas revistinhas meu gosto pela leitura, que só aumenta a cada dia.

Naquele tempo não tinha fixação por um personagem. Quando meu pai ia até a banca para comprar o jornal de domingo, ele me deixava escolher algum gibi e, assim, minha pequena coleção foi aumentando. Tenho até hoje a primeira história de Wolverine publicada no Brasil, numa revista do Incrível Hulk. E esqueçam: ela não está à venda.

Só havia um problema com meus gibis do Batman e do Homem Aranha: não tinha como comprar mais o número 1 e eu queria fazer uma coleção desde o começo. Então, um dia, a Editora Abril relançou as antigas histórias do Spirit, personagem do genial Will Eisner, que circulou originalmente em cadernos semanais dos jornais americanos dos anos de 1940 e 1950.

Will Eisner, para quem não sabe, é considerado o criador das novelas gráficas, sendo o primeiro artista a defender que as histórias em quadrinhos poderiam ser também produções literárias para adultos. Suas perspectivas e o domínio das luzes e sombras nas suas ambientações serviram de inspiração para o cinema noir daquele período.

A longa espera

Enfim, pela primeira vez eu tinha que esperar um mês inteiro para comprar um gibi novo do Spirit. Eram tempos de inflação e sempre o preço de capa aumentava. Ia para a escola com o dinheiro contado para comer um lanche e abria mão dele para poder garantir meu exemplar antes dele esgotar na banca. Passava o dia com balas de canela no estômago, mas voltava para casa com mais um gibi para minha coleção.

Como era de se esperar, a revista não durou muito tempo: menos de um ano e meio. Ela não vendia bem e o pior: não tinha anunciantes. A garotada da época só queria saber da Mônica, do Mickey e do Pato Donald. Spirit não tinha liquidez, mas naquela época eu não sabia o que era isso.

Paralelamente, estava fazendo outra coleção, que me exigia ainda mais paciência. A cada Natal e aniversário eu pedia de presente para os meus pais um disco de vinil dos Beatles. Levei mais de sete anos para completar a coleção, que para mim cobre os álbuns oficiais de estúdio e a coletânea "Past Masters", que reúne os Singles que não entraram nos Long Plays – LPs.

Novamente, eu não sabia, mas estava exercitando a disciplina e paciência, que seriam muito úteis, tempos depois. Disciplina para focar nos discos dos Beatles – e não do Ultraje a Rigor ou Queen, que faziam sucesso na época. E paciência para esperar o próximo Natal. Quando chegava a véspera, batia uma indecisão na hora de escolher o próximo álbum na loja de discos – prazer que os mais jovens não vão conhecer. Como era bom ouvir um disco dos Beatles pela primeira vez.

Controlando a ansiedade

Completar uma coleção tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que acaba a ansiedade pela próxima aquisição. O lado ruim é que a gente sente falta dela e logo procura outra coleção para fazer. É neste caso que algumas pessoas se perdem e o saudável hábito de colecionar vira uma obsessão – um vício.

Felizmente, não me perdi nisso. Cresci e continuei fazendo pequenas coleções. Comecei tardiamente a comprar CDs do Oasis. Já tinha a própria renda e não precisava mais esperar pela boa vontade dos pais. Porém, estipulei uma condição para mim mesmo: só compraria um CD do Oasis depois que fechasse um projeto novo.

Foi mais rápido fazer esta coleção, mas tem um detalhe importante. Importante não, fundamental: minha namorada. Eu fechava um trabalho novo e saia com ela para comemorar. Na hora de comprar um CD para mim, no Shopping, comprava um CD para ela também.

O gosto dela era mais sortido: A-ha, Alphaville, Pretenders, Keane e um tal de Air Supply. Prova de amor – e de suplício – é ouvir um CD do Air Supply no carro, com sua namorada, sem fazer cara de desespero, só para agradar ela.

Cuidados distribuídos

Meu automóvel também não era convencional: um MP Lafer 1974. Por muitos anos foi meu único veículo. Quando parava num posto de combustíveis, era comum perguntarem se eu colecionava carros antigos. Bem que eu queria, mas esse é o tipo de brinquedo caro para comprar e para manter.
No entanto, ao frequentar encontros de carros antigos, a gente acaba conhecendo grandes colecionadores. Tem gente que coleciona marcas diversas, ao passo que outros compram carros de apenas uma fabricante.

Certa vez conversei com um colecionador de Studebaker. Perguntei se a mulher dele não tinha ciúmes dos veículos. Ele disse que não, pois cuidava da família ainda melhor que de suas máquinas. Ele era empresário também. Dos mais competentes.

Notei que, quando uma coleção não vira motivo de brigas na família, ela serve de incentivo para a pessoa ser ainda melhor no seu trabalho. Só assim poderá deixar sua família amparada, liberando o suporte para cuidar de seus objetos de afeição.

Colecionar o que vale a pena

De minha parte, parei de colecionar gibis há muitos anos. A revolução digital acabou com as lojas de discos. Bob Dylan e David Bowie dançaram: não vou mais colecionar discos deles. Ouço tudo de graça no Deezer. Pobre Deezer: ainda não assinei o serviço deles e continuo ouvindo propaganda entre as músicas.

Porém, como fui inoculado com o vírus de colecionador, resolvi começar uma coleção de ativos financeiros: ações de empresas pagadoras de dividendos e cotas de fundos imobiliários. Que maravilha. Esse é o tipo de coleção que você começa sem previsão de completar. Sempre tem algo a mais para você buscar. E o melhor: a coleção de ativos que geram renda passiva adicionam os juros compostos que fazem a própria coleção aumentar mais rapidamente.

Fico esperando aquele dia do mês, quando terei dinheiro para comprar mais um ativo. Não numa banca de jornal. Não numa loja de discos. Mas na Bolsa de Valores, via Home Broker. Qual ação comprar da próxima vez? Ou será que vamos completar aquela centena de cotas de um fundo imobiliário? E assim vamos enchendo as prateleiras virtuais.

Perfil equilibrado

Você pode perguntar se minha esposa não sente ciúme das minhas ações. Responderei que não, pois as ações são delas também. Além disso, me esforço para cumprir com outras obrigações do casamento – e não são poucas. Quando nasce uma criança, elas só aumentam.

Disciplina, paciência e atenção com a família. Conceitos que um colecionador experiente leva em conta para continuar sua busca infinita por novos componentes.

A grande vantagem de colecionar ativos financeiros é que eles não ocupam espaço em casa, nas gavetas das escrivaninhas e nos nichos da estante da sala. Naquela hora do mês para efetuar uma nova compra, a gente dá uma espiada na custódia da corretora, para tirar pó dos ativos mais antigos e para lustrar os novos rendimentos.

De todas as coleções que já comecei, a de ativos financeiros está sendo uma das mais prazerosas, numa disputa acirrada com os livros de bolso dos grandes filósofos da História. Estes livros de bolso são baratinhos, mas carregam valores de primeira grandeza.

Complete sua coleção

Porém, deixei a melhor coleção de todas para o final. Trata-se da coleção de livros da Suno Research. Já fez sua assinatura? Então não perca tempo.

Obviamente, minha opinião é suspeita, pois estou trabalhando para aumentar esta coleção paulatinamente. Ela começou com o “Guia Suno Dividendos” e dobrou com o “Guia Suno de Contabilidade para Investidores”. Escrevi estes livros em parceria com o Tiago Reis.

Depois veio o “Guia Suno Fundos Imobiliários” que editei para o Marcos Baroni e o Danilo Bastos. Já o “101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes” foi escrito por Tiago Reis e Felipe Tadewald.

Finalmente trabalhei com a Alice Porto, a Contadora da Bolsa, para lançar “101 Perguntas E Respostas Sobre Tributação Em Renda Variável”. Mas a coleção não para por aí. Já estamos empenhados em novos lançamentos nos próximos meses. Você não perde por esperar.

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