sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Stan Lee e os gibis do Homem Aranha

As revistinhas do Homem Aranha ainda estão guardadas numa caixa de papelão.
As revistinhas do Homem Aranha ainda estão guardadas numa caixa de papelão.

Crianças não gostam de mudanças drásticas. Em 1984, tinha meus incríveis oito anos de idade e morava numa casa de esquina perto da escola Mascarenhas, para onde ia caminhando logo cedo, junto com os colegas que moravam na mesma rua ou em ruas paralelas.

Um dia meus pais sismaram de mudar para uma chácara, no distante bairro do João Aranha. Mudei também de escola e perdi contato com minha turma. Até fazer novas amizades demorou um pouco, mas uma das poucas vantagens que percebi naqueles dias era que estudaria de tarde. Ou seja: teria tempo de ver desenhos animados que só passavam de manhã.

A Record não pegava mais em Paulínia naquela época, então não dava mais para torcer por Speed Racer. Mas a Globo apresentava o desenho do Homem Aranha, que logo tornou-se meu herói favorito.

Nos domingos de manhã meu pai gostava de ir até a banca de jornais do centro para comprar o Estadão, ou o Correio Popular, ou os dois. Íamos juntos, pois era uma viagem. Entre João Aranha e Paulínia havia poucas casas no Jardim Planalto e no Alto de Pinheiros. O resto do percurso era repleto de canaviais e pastagens.

Além de comprar jornais, meu pai nos dava gibis de presente. Meu irmão gostava do Tio Patinhas e do Pato Donald. Minha irmã preferia Mônica e Cascão. Em novembro de 1984 pela primeira vez escolhi uma revistinha do Homem Aranha. Era o número 17 da Editora Abril. Ali começava uma pequena coleção de gibis de super-heróis.

O Homem Aranha dos gibis era diferente do personagem mostrado no desenho animado. Na TV Peter Parker era um cara bem resolvido, sendo amigo da Mulher de Fogo (esqueci o nome correto) e do Homem de Gelo. Porém, nas revistas em quadrinhos ele tinha seus problemas com os estudos, com as namoradas e com a falta de grana.

Para um garoto de quase nove anos isso era novidade e logicamente fui influenciado pela leitura recorrente. Peter Parker era aplicado nos estudos e eu também queria ser. Ele era bom de Ciências e ajudava o professor no laboratório da universidade. Achava aquilo o máximo e queria ser fotógrafo de jornal também. Até hoje quero.

Somente alguns anos depois notei que o Homem Aranha era uma criação de Stan Lee, em parceria com Steve Ditko. Nas revistas da Marvel publicavam algumas cartas dele, que tinha um jeito bem humorado de escrever, e eu também queria ser assim.

Logo me interessei por outros tipos de histórias em quadrinhos. Meu pai me comprava álbuns do Tintim. O tio Gijo me deu dois livros de luxo do Príncipe Valente, e o tio Dário me presenteou com a coleção quase completa do Asterix. Adorava aqueles quadrinhos e quando conheci o personagem The Spirit, de Will Eisner, fui levado para as Graphic Novels, e daí para os livros.

Se você perguntar se ainda leio gibis, responderei que raramente folheio algum. Quando os personagens da Marvel chegaram no cinema, fazendo de Stan Lee um sujeito cada vez mais rico, cheguei a ver os primeiros filmes, mas perdi a paciência com essas coisas, embora não renegue a importância que este universo de personagens teve em minha formação.

Com a notícia do passamento de Stan Lee, ao 95 anos de idade, uma porção de boas memórias aflorou em minha mente. O que me deixa contente é que ele continua me inspirando. O descendente de judeus romenos trabalhou desde cedo numa editora de histórias em quadrinhos. Seu sonho, no entanto, era ser dramaturgo e escritor de literatura séria.

Beirando os quarenta anos de idade, Stan Lee estava descontente com sua carreira e pensava em abandonar seu ofício, pois a empresa onde trabalhava, a Marvel, estava com as vendas de revistas decaindo.

Foi então que, num gesto de "tudo ou nada", ele pediu a liberdade para criar personagens nos quais realmente acreditava. Isso foi no começo da década de 1960, quando o sucesso do Quarteto Fantástico bancou a nova postura de Stan Lee, que criou também Hulk, Thor, Homem de Ferro, X-Men, entre tantos outros - além, é claro, do Homem Aranha.

Se sua carreira decolou tardiamente nos gibis, somente beirando os 60 anos de idade Stan Lee ganhou espaço na televisão, com as séries de Hulk e Homem Aranha. Mas o melhor ainda estava por vir, com a explosão dos seus personagens nos cinemas, onde o quadrinista cansou de fazer pontas, já ultrapassando os 70 anos de idade. Desde então ele diminuiu seu ritmo de trabalho, mas nunca se aposentou.

De todos os personagens que Stan Lee criou, talvez o maior deles foi ele mesmo.

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