terça-feira, 13 de novembro de 2018

Uma boa carteira de ações é como uma adega

Uma boa carteira de ações é como uma adega (publicado originalmente em 12 de janeiro de 2018 no grupo da Suno Research no Facebook).

O enófilo que aprecia um bom vinho tem muito em comum com o investidor de valor que acompanha uma grande empresa: ambos são estudiosos e cultivam a paciência e a disciplina, evitando riscos e ressacas.

Por Jean Tosetto *

O vinho é uma bebida fermentada milenar registrada na História desde os tempos das escrituras sagradas. Seu processo de produção requer cuidados que fazem das vinícolas um dos empreendimentos mais complexos e antigos da sociedade. Aqueles que, além de apreciar os vinhos, estudam os seus pormenores, são considerados enófilos.

Você dificilmente verá um enófilo diante de uma gôndola de supermercado, estudando o rótulo de um vinho de mesa suave. Vinhos desse tipo são produzidos em larga escala para consumo imediato. A composição deles recebe açúcar para aumentar a sua aceitação perante um público maior.

O problema de consumir vinhos de tal naipe em excesso é que, apesar de seu sabor convidativo, em geral eles provocam fortes ressacas. Um enófilo nunca vai dizer: “No começo é assim, mesmo. É preciso se acostumar com as dores de cabeça das ressacas, pois elas sempre acontecem”.

Ao contrário, o conselho será diferente: “Você quer se dar bem com os vinhos? Deixe os suaves de lado. Aprenda a valorizar o sabor dos vinhos secos, que descansam um bom tempo em barris de carvalho”.

A cultura do vinho e do investimento

Enófilos são como investidores de longo prazo. Eles não praticam day trade, pois tem aversão às ressacas que tais operações provocam. Se a possibilidade do lucro rápido é bem adocicada, a dor de cabeça do prejuízo vindouro é inevitável.

Os enófilos cultivam a paciência e a disciplina. Muitos deles investem em garrafas de vinho de safras recentes, esperando que elas valorizem com o tempo, guardando as mesmas em suas adegas. Uma garrafa envelhecida de ótima safra, quando comprada tardiamente, é cara demais.

Algo semelhante ocorre no mercado de capitais. As ações da Ambev são ótimas, possuem sólidos fundamentos – e a empresa nem é focada em vinhos, mas em outra bebida fermentada: a cerveja. O problema das ações da Ambev é que elas ficaram caras. Se elas ainda podem ser um bom negócio, este não terá o mesmo retorno de quem investiu nelas há pelo menos dez anos.

Por isso, uma boa carteira de ações de um investidor de longo prazo é como uma adega no subsolo da casa de um enófilo. Ambas devem estar bem protegidas dos riscos elevados e das temperaturas externas, para evitar que as garrafas de vinhos e os lotes de ações se convertam em vinagre.

Um investidor não fica expondo sua carteira por aí. Em geral somente outros investidores de sua confiança tem acesso a ela. O mesmo acontece com as adegas dos enófilos: eles não as mostram para aqueles que não entendem do riscado, embora aumentar a network seja fundamental para o crescimento de ambos: o investidor e o enófilo.

Cuide da sua carteira como um enófilo cuida da sua adega

Garrafas de vinho, assim como lotes de ações, nunca devem ficar abandonadas no fundo das adegas ou das carteiras de investimentos. Enófilos e investidores estão sempre revendo suas preciosidades. Se os enófilos giram suas garrafas de vinho de tempos em tempos, para evitar a decantação excessiva das leveduras, os investidores por vezes precisam promover um giro em seus portfólios, ao verificarem melhores oportunidades.

Outro aspecto importante que podemos verificar, tanto numa carteira de investimentos quanto numa adega sortida, é justamente a diversificação. Se enófilos cultivam vinhos tintos, brancos e rosados; investidores cultivam ações de empresas, cotas de fundos imobiliários e eventualmente debêntures. Cada tipo de investimento será adequado a um perfil de renda passiva, assim como cada tipo de vinho será indicado para acompanhar carnes e massas diferentes.

A parceria com quem sabe fazer

Enófilos não são necessariamente enólogos, assim como investidores não são necessariamente empreendedores, embora uns não vivam sem os outros. O mercado de vinhos e o mercado de capitais dependem da parceria entre estas figuras que podem ser distintas, mas interdependentes.

O enólogo é aquele que está à frente da produção do vinho, desde o preparo do solo, passando pela manutenção dos parreirais – que podem atravessar décadas se receberem o manejo correto – chegando ao processo de vinificação que definirá as estratégias de distribuição para o mercado.

Bons enólogos cultivam rosas nas cabeceiras dos parreirais. Por terem o arranjo de DNA semelhante ao verificado nas videiras, as roseiras, sendo mais sensíveis ao clima e às pragas, antecipam sintomas que permitem as correções de rumo nas vinícolas. Se as roseiras não dão lucros por si só, elas podem ajudar a prevenir futuros prejuízos.

Do mesmo modo, os empreendedores precisam cultivar roseiras em seus negócios. Por vezes as roseiras podem ser empresas de consultoria, capazes de antecipar tendências de mercado, além de antever situações de risco para o empreendimento.

Conhecendo o negócio de perto

Bons enófilos visitam vinícolas antes de adquirir vinhos e estão sempre em contato com os enólogos. De modo semelhante deve agir o investidor consciente: antes de realizar algum aporte em determinada empresa, ele deve estudá-la profundamente, de preferência visitando suas instalações e conversando com os empreendedores.

Como nem sempre isto é possível, as empresas se valem do departamento de relações com investidores no qual os parceiros em potencial podem obter as informações necessárias para a tomada de decisões.

Tais quais as empresas que operam em setores distintos da economia, como o energético, o financeiro e o de varejo; as vinícolas trabalham com qualidades diversas de uvas, como Cabernet Sauvignon, Malbec e Tannat, gerando as preferências entre os enófilos.

A produção de vinhos nobres depende de uvas selecionadas que se adaptem às condições climáticas de cada vinícola. Do mesmo modo, as empresas boas pagadoras de dividendos devem operar em negócios perenes, nem sempre disponíveis em qualquer situação.

Melhorando com o tempo

Um enófilo, bem como um investidor de longo prazo, não se cria da noite para o dia. Ele é resultado de anos de aprimoramento e busca constante de conhecimento. Ambos desenvolvem uma cultura geral em torno dos assuntos pesquisados, fazendo deles donos de conversas agradáveis para os interlocutores aprendizes.

Fonte de consulta

Não poderíamos encerrar a comparação do mercado financeiro com o mercado viticultor sem mencionar a importância do sommelier. O sommelier é o especialista que prepara cartas de vinhos para restaurantes e eventos diversos, selecionando as melhores bebidas para cada ocasião. No ambiente da Bolsa de Valores o sommelier é como um analista de valores mobiliários, habilitado para tecer recomendações para investidores.

Bons enófilos sempre estão consultando sommeliers e suas cartas de vinhos. Grandes investidores não deixam de ler os relatórios dos melhores analistas de valores. Sommeliers possuem contato constante com enólogos e vinícolas, assim como analistas acompanham as melhores empresas e fundos de perto.

Tim tim

Na Suno Research você tem acesso à melhor carta de ações de empresas e cotas de fundos imobiliários para abastecer a sua adega de investimentos com foco no longo prazo. Nossos sommeliers te manterão longe das ressacas e perto de outros investidores, através dos eventos exclusivos que a casa de análise promove. Faça sua assinatura ainda hoje. Brindemos ao seu futuro.

* Jean Tosetto é coautor do Guia Suno Dividendos, escrito em parceria com Tiago Reis e disponível na Livraria Cultura, na Amazon ou diretamente com a Editora CLA.


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2 comentários:

  1. Excelente texto. Os dois contextos de complementam brilhantemente.
    Pouco a pouco tenho colocado a prova estes conceitos como um brasileiro que vive no Chile e tem aprendido de bons vinhos e também
    como novo investidor em renda variável que tem aprendido muito sobre diligência e resiliência.

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    1. Caro Marcelo, você está no caminho certo. A mentalidade de longo prazo é a chave para apreciar bons vinhos e fazer ótimos investimentos. Grande abraço!

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