sexta-feira, 6 de julho de 2018

Não chore pela seleção brasileira de estrangeiros

Arena Pantanal em Cuiabá, em abril de 2014. CC BY 3.0. Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/dinamic/galeria_imagem/42482
Arena Pantanal em Cuiabá, em abril de 2014. CC BY 3.0. Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/dinamic/galeria_imagem/42482

O time da CBF, que dizem que é o time do Brasil, acaba de perder para o time da Bélgica na Copa da Rússia de 2018. O Brasil está fora e fica atrás do Uruguai na classificação geral do torneio. O Uruguai tem pouco mais de três milhões de habitantes e a derrota deles para os franceses certamente foi mais sofrida do que a nossa, pois nós, brasileiros, perdemos o direito de lamentar derrotas no futebol, depois do grande vexame que passamos na Copa de 2014.

Não estou me referindo à goleada de 7 a 1 sofrida para a Alemanha, numa campanha onde o Brasil de Scolari foi além da campanha feita na Rússia, com todas as falácias de autoajuda do técnico Tite, que apenas igualou o desempenho do antipático Dunga em 2010, na África do Sul - país pobre do Terceiro Mundo onde a FIFA ganhou milhões de dólares tendo como presidente um sujeito expulso do futebol por suspeitas de corrupção.

A FIFA repetiu a história no Brasil, com vergonhosas isenções de impostos. A conta ficou para o contribuinte pagar. Uma conta de bilhões gastos em arenas construídas em estados onde o campeonato local de futebol movimenta menos dinheiro que o jogo clandestino do bicho.

Esse foi o grande vexame anunciado desde que o Brasil foi escolhido para sediar uma Copa do Mundo. Jornalistas cantaram que a construção dos estádios seria superfaturada e que eles seriam abandonados logo depois do evento, configurando-se em elefantes brancos cercados pela aridez da penosa realidade brasileira. Quatro anos depois da Copa de 2014, tudo se confirmou.

Políticos lucraram horrores com essa história. Empreiteiras associadas aos políticos também. Até São Paulo, que tinha pelo menos dois estádios em condições de receber jogos da Copa, ganhou uma arena nova, entregue para um time que forneceu o único jogador da seleção brasileira de 2018 que joga no Brasil, pois o titular e o reserva imediato da posição se machucaram.

Time esse que é patrocinado pela mesma empresa fornecedora de uniformes da seleção brasileira e que tem contrato vitalício com o principal comentarista do único canal aberto com permissão para transmitir os jogos no Brasil, que nunca fala mal dos outros jogadores protegidos pela mesma empresa que já emprestou seu nome para uma CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito - que terminou em pizza.

Nos últimos trinta anos a CBF - Confederação Brasileira de Futebol - teve quatro presidentes: três deles arrolados em processos judiciais que os prendem em território brasileiro ou numa cadeia norte-americana, onde a justiça é levada mais a sério. O quarto presidente é um coronel mandado, cujo nome declinarei de mencionar.

Não, meus amigos, não chorem por esses jogadores da seleção brasileira. Quase todos não vivem nos padrões da realidade brasileira. Eles trabalham na Europa e sequer na Europa eles vivem de acordo com a realidade europeia, pois eles estão bem acima dela, sendo tratados como cavalos de raça por seus clubes, comendo como reis e dormindo como princesas.

Particularmente me irrita, nas vésperas de cada Copa, assistir o telejornal semioficial do Brasil, com reportagens de apelo emocional tentando mostrar que os jogadores tiveram uma infância difícil. Mentira! Nunca passaram fome, pois se fossem desnutridos nunca teriam se profissionalizado. Boa parte dos jogadores da seleção brasileira ganha dinheiro com futebol desde a puberdade, pois neste esporte os contratos informais com jovens promessas são apalavrados com seus pais ou responsáveis.

Confesso que há muito tempo perdi o entusiamo com o Brasil em Copas do Mundo. Cantei que o Brasil iria perder para a França na final da Copa de 1998 antes mesmo dela começar. Ninguém acreditou. Queria ter a capacidade de me iludir com futebol, mesmo que isso me custasse frustrações após uma derrota nas quartas de final de uma Copa. Já fui criança e sei como uma derrota esportiva pode ser dolorosa - o que também tem a sua beleza poética.

Mas parece que estou vacinado quanto a isso e sem vontade de incentivar as crianças da minha família a torcer pela "nossa" seleção, que na verdade nunca foi nossa, pelo menos desde que o timaço de Zico, Sócrates e Falcão perdeu para a Itália em 1982, na Espanha.

Enquanto o brasileiro chora por sua seleção, obras de transporte continuam inacabadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Estádios magníficos estão sendo subutilizados. Políticos fazem delação premiada para viver em prisão domiciliar, em sítios suntuosos. Empreiteiros entregam alguns bois para as piranhas devorarem e muitos se livram de qualquer culpa. E tem aqueles que ainda querem voltar ao poder através do voto direto, mesmo vendo os jogos da Copa em televisores de cela.

Fizeram o que fizeram sob as nossas barbas. Por isso não culpemos a defesa do time da CBF, que deixou a Bélgica jogar debaixo e por cima de seus topetes repicados.

Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O seu comentário construtivo será bem vindo. Não publicaremos ofensas pessoais ou dirigidas para qualquer entidade. EVITE ESCREVER SOMENTE COM MAIÚSCULAS. Não propague spam. Links e assuntos não relacionados ao tema da postagem serão recusados. Não use termos chulos ou linguagem pejorativa.