quinta-feira, 21 de julho de 2016

Pensar dentro ou fora da caixa?

O que tem dentro da sua caixa?
O que tem dentro da sua caixa?

Imagine que você está dirigindo um carro de noite, por uma estrada com pedágios. Subitamente o motor apaga e você vai para o acostamento. Como você pagou o pedágio, liga para a concessionária, que lhe envia o socorro. Meia hora depois a caminhonete chega, o funcionário abre o capô do carro, lhe faz perguntas certeiras e constata o que aconteceu. Ele começa a raciocinar sobre o procedimento para fazer o conserto da avaria e conclui que basta um alicate e uma chave de fenda para tanto, que ele trouxe em sua caixa de ferramentas.

Sabe o que o mecânico fez? Ele pensou dentro da caixa, literalmente.

"Minha Nossa - Sua e Vossa - Senhora! Mas eu li num texto do Arnaldo Jabor, compartilhado pelo Luis Fernando Verissimo e replicado no perfil do meu colega de boliche, que devemos justamente pensar fora da caixa!"

Pois é, se o mecânico pensasse fora da caixa, neste caso, talvez ele tentasse consertar seu carro com um pedaço de arame farpado que viu no cercado da beira da pista. Nem o MacGyver faria isso, se estivesse de posse de seu canivete suíço, que vale por uma caixa de ferramentas.

Vamos entender "caixa de ferramentas" como repertório. Antes de compôr os sucessos dos anos de 1960, que se tornaram clássicos do Século XX, os Beatles colocaram em sua caixa de ferramentas dezenas de covers de cantores de rock e blues da década anterior, como Little Richard, Chuck Berry e Carl Perkins. Os Beatles começaram pensando dentro da caixa, para depois pensarem por conta própria.

Nenhum filósofo vai adicionar uma frase na história do pensamento da humanidade se não tiver lido antes todos os grandes autores da área. Um filósofo precisa colocar muitos livros dentro de sua caixa, ou seja, do seu repertório, para ter a chance de pensar por conta própria um dia. Caso contrário, ele corre o risco de pensar que teve uma ideia inédita, que na verdade já foi concebida centenas de anos antes.

Um estudante de Arquitetura que não viaja, não enriquecerá seu repertório formal, que lhe servirá de base crítica para seus primeiros projetos. E assim sucessivamente, em diversos ramos de atuação.

Pensar dentro da caixa não é um pecado, desde que sua caixa tenha algo que preste. Quem preenche a sua caixa de ferramentas - o seu repertório - com músicas chulas, filmes rasos, livros sensacionalistas, programas de televisão popularescos e piadas escatológicas do YouTube, poderá pensar 200 metros fora - e acima - da caixa, que não produzirá algo relevante.

Pensar dentro ou fora da caixa importará menos quando conseguirmos pensar por conta própria, de modo construtivo.

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2 comentários:

  1. Muito show. Eu sempre recomendo aos arquitetos e aos engenheiros que ampliem seu "vocabulário" de soluções técnicas e criativas, através de viagens, participação em congressos, leitura de livros e revistas técnicas e conversas com profissionais experientes. Mas nunca havia organizado esse pensamento da forma tão inteligente como você fez nesse seu artigo. Parabéns.

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    1. Pensar por conta própria não é tão simples como parece, mas é estimulante. Ser levado pelos pensamentos dos outros, o tempo todo, é o que nos faz escravos sem cadeias. A matéria prima do pensamento é aquilo que alguém acumula ao longo de sua experiência. Grato!

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