quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Mais um ano para investir pagando menos impostos

"Una e o Leão", pintura de Briton Riviere (1840-1920) inspirada no poema épico "A Rainha das Fadas" de Edmund Spencer. (Texto publicado originalmente em 27 de dezembro de 2017 no grupo da Suno Research no Facebook)
"Una e o Leão", pintura de Briton Riviere (1840-1920) inspirada no poema épico "A Rainha das Fadas" de Edmund Spencer.

Entre o Natal e a virada do ano, vivemos dias de limbo. Tenho dó destas datas entre 26 e 30 de dezembro onde nada de relevante parece acontecer. Os canais de televisão já deixam suas retrospectivas editadas e ignoram sem solenidade esta semana preguiçosa, onde quem precisa trabalhar deve ter muito cuidado ao acessar as redes sociais, vendo seus amigos e inimigos fazendo selfies por aí.

Muitas pessoas aproveitam esta época do ano para fazer reflexões pessoais, revisão no carro e promessas para um novo tempo. Aqueles poucos brasileiros que investem no mercado de ações têm uma boa oportunidade para verificar sua carteira de ativos, analisando suas valorizações e seus rendimentos, ou se decepcionando com alguma escolha feita no ano que passou.

Pessoalmente, não me dou esse trabalho. Não nesta época do ano. Como investidor de longo prazo, procuro controlar a tentação de revisar minha carteira com frequência. Faço isso quando sou forçado a fazer.

Basicamente, é a Receita Federal que me obriga a inspecionar a carteira de ativos uma vez por ano, entre março e abril. Nestes meses o brasileiro se ocupa de fazer a declaração anual de ajuste do imposto de renda das pessoas físicas.

Tem gente que preconiza o investimento por conta própria, fugindo de fundos com altas taxas de administração, mas na hora de ajustar as contas com o Leão, terceiriza a tarefa para algum contador. Eu não. Prefiro investir por conta própria e cuidar da minha declaração anual sozinho. Dá trabalho. É chato. Talvez, por isso, a Receita Federal empurra essa obrigação para depois do Carnaval.

Quem investe em ações e fundos imobiliários precisa ter ainda mais atenção na hora de preencher sua declaração anual de imposto de renda. Felizmente a Suno Research publicou um guia para mastigar tudo para seus assinantes e leitores.

E lá vamos nós, acessar o site da corretora de valores, para baixar os extratos mensais e as notas de corretagem. Sou quase um macaco velho, então imprimo tudo para anexar na pasta onde registro toda a minha contabilidade pessoal.

Como todo macaco velho, não gosto de pagar imposto sem precisar – isso é bem diferente de sonegar. Sonegar é crime. Mas se tem uma brecha permitida por lei para não pagar taxas e impostos, então procuro cravar minha cunha nela.

Daí resulta que sou muito seletivo para fazer aportes em fundos imobiliários. Só compro se for para abraçar. Não faço giro de carteira, entre outros motivos, para não pagar impostos. Quando preciso me desfazer de alguma posição em ações, o faço dentro do limite mensal de isenção. Pagar menos impostos é um dos pilares do investidor de longo prazo.

Voltando à papelada gerada pela corretora de valores: nela repasso todas as movimentações feitas no ano anterior, tirando delas o histórico de cada ativo que vou lançando na declaração. Com tal medida, consigo confirmar o preço médio de cada ação, cuja meta é sempre abaixar, quando possível.

Todos os recebimentos de dividendos (prazerosamente livres de impostos) e JCP (Juros sobre o Capital Próprio com impostos retidos na fonte) são novamente inspecionados, com a vantagem de obter o valor total amealhado em todo o ano. Esse valor dividido por doze equivale à renda mensal passiva que, por enquanto, é toda reaplicada, mas indica o quanto caminhamos no mesmo período.

A meta é sempre elevar este valor mensal, até que ele suplante o valor da renda trabalhada.

Por falar em renda trabalhada, é por causa dela que mais pago imposto de renda. Em quase vinte anos de carreira, recebi salários com retenção de impostos na fonte durante apenas um semestre, quando atuei como professor convidado numa faculdade. No restante do tempo, minha renda trabalhada sempre foi variável, pois sou profissional liberal.

Aqui, o macaco velho vai compartilhar algo bom da Receita Federal: ela mesma te ensina como pagar menos impostos, ou como obter maior restituição após a declaração de ajuste.

Profissionais autônomos e liberais, além daqueles que recebem aluguéis como pessoas físicas, podem baixar um programa denominado “Carnê-Leão”.

Neste programa vem embutido o Livro Caixa, onde o contribuinte pode lançar todos os seus recebimentos e despesas. Existem despesas dedutíveis e despesas não dedutíveis. Para saber diferenciá-las existe um guia no próprio programa.

Quem tiver a paciência de lançar pequenas despesas, como conta de água, energia e telefone (no caso de quem trabalha em casa algumas das despesas são divididas por cinco), se surpreenderá com a redução do imposto a pagar mensalmente, através de um DARF – Documento de Arrecadação Federal – gerado automaticamente.

O Livro Caixa ofertado pela Receita Federal foi criado originalmente para auxiliar o contribuinte a pagar impostos corretamente, mas acaba servindo como recurso de controle de contas, gerando balanços financeiros mensais.

Mesmo quem é assalariado, mas tem uma pequena renda mensal extra com prestação de serviços, poderá usar o Carnê-Leão para lançar despesas dedutíveis, que na declaração de ajuste anual seriam ignoradas pelo sistema. Ou seja, quem se organiza paga menos impostos.

Outro caminho para pagar menos impostos e garantir ao menos um salário mínimo de aposentadoria através da Previdência Social, é verificar se a sua renda extra informal é compatível com a abertura de um MEI – Micro Empreendedor Individual.

Com a reforma trabalhista, cada vez mais os assalariados serão direcionados para aderir à abertura de um CNPJ, por causa da terceirização regulamentada. O MEI acaba sendo uma porta de entrada para pequenos empreendedores testarem sua veia empresarial, sem o freio de pesadas cargas tributárias.

Na realidade brasileira sabemos que a renda trabalhada está cada vez mais achatada. Quem não possui um emprego estatal protegido da quebradeira que assolou o país, sabe que nos últimos anos tem sido difícil manter o padrão de renda adquirido nos tempos das vacas gordas.

Portanto, cada vez mais a disciplina para investir em longo prazo deve prevalecer. Gastar todo o dinheiro ganho é fácil. Endividar-se é mais fácil ainda: qualquer um consegue. Mais difícil é fazer economia. Quem consegue viver com menos do que ganha já deu um grande passo para investir com inteligência.

Por isso, nos dias preguiçosos entre o Natal e a virada do ano, nem olho para minha carteira de ativos – vou me atentar para ela quando o Leão pedir. Ao invés disso, procuro pensar de que forma consigo aumentar meus aportes mensais no ano seguinte, rumo à independência financeira, quando os dias preguiçosos poderão tomar conta do resto das estações.

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