Esqueça, o porquinho da caderneta de poupança não nasceu para voar. |
O profeta já dizia que figueiras não produzem azeitonas e videiras não produzem figos. Este é o problema da caderneta de poupança, quando considerada como alternativa de investimento – o que não faz dela uma vilã, como pregam certas “autoridades”.
Estamos vivendo na “Era dos Youtubers”. Aparentemente eles fazem tanto sucesso que são considerados influenciadores digitais. No mundo virtual não há limites para seus egos inflados: “Eu elegi o presidente” – disse um deles. “Vou desferrar sua vida” – prega a autoproclamada mãe dos juros compostos.
Nada contra assistir vídeos na Internet. Existe conteúdo relevante neles, especialmente no campo da educação financeira. Alguns canais do YouTube fazem mais pelas pessoas nesta área do que a maioria das escolas convencionais. Mas também se fala muita bobagem por aí. Precisamos ter senso crítico para assistir um vídeo no YouTube do mesmo modo como devemos ter senso crítico para ler um artigo, incluindo este.
Para chamar atenção do público, alguns youtubers são provocativos: falam coisas para chocar o espectador. Este por sua vez, ser for um desavisado, se sentirá um imbecil. Então, quando alguma solução simples for proposta, voilà: fica a impressão de que um gênio está falando na tela do smartphone. Um gênio que pede um joinha e a ativação do sininho no final da transmissão.
A Geni do mercado financeiro
Nessas horas, coitada da caderneta de poupança – ela é uma das maiores vítimas dos youtubers que falam sobre investimentos na Internet. Batem nela sem dó. Quem tem ou já teve dinheiro numa caderneta de poupança tenta se esconder no buraco mais próximo. Ter uma caderneta de poupança é como ter um disco do Waldick Soriano: quem tem não fala.
Se você tem uma caderneta de poupança e já viu um vídeo no YouTube desancando ela, sabe o que deveria ser respondido nos comentários?
“Eu não sou cachorro, não!”
Fique tranquilo, pois não tem problema algum ter dinheiro numa caderneta de poupança, desde que você saiba suas reais funções.
Primeiramente devemos ter com clareza que a caderneta de poupança não é um produto bancário de investimento, mas é como se fosse uma garagem para estacionar o dinheiro. A caderneta de poupança repõe apenas as perdas inflacionárias, oferecendo um rendimento real muito baixo. Em 2018, por exemplo, a caderneta de poupança não rendeu sequer 1% acima da inflação, que por sua vez é sentida de modo diferente em cada estrato da sociedade.
Longo prazo
Ou seja, no longo prazo dificilmente o acúmulo de recursos numa caderneta de poupança trará tranquilidade para o complemento de uma aposentadoria. Para o longo prazo o investimento em ações de empresas que pagam dividendos e os aportes regulares em fundos imobiliários serão bem mais eficientes neste sentido, como demonstramos no Guia Suno Dividendos, em função da geração de renda passiva que preserva o patrimônio amealhado.
Médio prazo
Para projetos de médio prazo, como uma viagem de férias com a família, um curso de pós-graduação, a troca de um veículo ou a reforma de um imóvel, a caderneta de poupança perde para o Tesouro Selic, mesmo com as taxas de juros num período de baixa histórica. Em 2018 estima-se que o Tesouro Selic entregou um rendimento real próximo de 3%.
Apesar do rendimento do Tesouro Selic implicar no pagamento de imposto de renda no momento da retirada, ele poderia ser considerado como a nova caderneta de poupança dos brasileiros. Ainda lhe falta, porém, a liquidez imediata, que não ocorre em fins de semana e feriados. Além disso, pode haver interrupções de negociações no Tesouro Direto, sempre que eventos não controlados provocarem movimentos especulativos, num processo semelhante ao Circuit Breaker da Bolsa de Valores.
Liquidez para emergências
Por isso, não se deve usar exclusivamente o Tesouro Selic como colchão de emergência, pois numa necessidade imprevista o dinheiro pode não estar disponível para saque imediato. Esta é a grande vantagem da caderneta de poupança para quem tem acesso ao Internet Banking: é possível transferir recursos para a conta corrente em qualquer dia e horário, sem pagamento de impostos, embora o rendimento mensal fique comprometido, pois ele só ocorre no “aniversário” do depósito.
Manter um fundo emergencial na caderneta de poupança evita que o poupador entre no cheque especial ou atrase o pagamento da fatura do cartão de crédito, cujos juros são estratosféricos, para não mencionar que são pornográficos.
Esta, portanto, é grande função da caderneta de poupança: atuar como fundo de tranquilidade para o poupador que também é investidor, posto que o principal do valor poupado deva ser direcionado para a compra de ativos que geram renda passiva.
Curto prazo
Para compromissos de curto prazo, e para possibilitar compras à vista com descontos reais, a caderneta da poupança também tem grande valia, especialmente nos primeiros meses do ano, repletos de contas importantes para pagar. Vejamos: IPVA do carro, IPTU da moradia, anuidade do conselho profissional, matrícula da escola particular. Todos estes compromissos oferecem bons descontos para o pagamento à vista, uma vez que parcelar qualquer conta é como deixar dinheiro na mesa do credor.
Para quem têm filhos na escola particular a caderneta de poupança pode ser muito útil. Vamos exemplificar simplificando os números, supondo que o valor da mensalidade seja de R$ 1 mil, com matrícula de igual valor. O montante anual seria de R$ 13 mil. É possível negociar descontos generosos para o pagamento antecipado de todo o ano. Neste caso, algumas escolas oferecem de 8% a 12% de desconto, taxa que pode ser progressiva conforme a fidelidade entre as partes ao longo do tempo.
Para facilitar vamos considerar um desconto de 10%. Dos R$ 13 mil originais, o valor pago cai para R$ 11.700 que, dividido por 12 meses fica em R$ 975 ao invés dos mais de R$ 1.083 previstos anteriormente. A diferença de R$ 108 permite a compra de uma cota de um bom fundo imobiliário por mês, capaz de gerar 10% desse valor ao ano, apenas em rendimentos livres de impostos, fora a valorização das cotas.
Além do mais, se você considerar que a poupança rendeu 4% no ano (sem descontar a inflação) e o desconto na escola foi de 10%, então, numa conta de padeiro, é como se o seu capital tivesse rendido 14% – seguramente mais de 1% ao mês. Nada mal.
Além do mais, se você considerar que a poupança rendeu 4% no ano (sem descontar a inflação) e o desconto na escola foi de 10%, então, numa conta de padeiro, é como se o seu capital tivesse rendido 14% – seguramente mais de 1% ao mês. Nada mal.
Questionamento
Posto isso, será que vale a pena gastar tempo e energia procurando algum CDB que bata o CDI e que tenha liquidez diária? Talvez não, uma vez que o retorno financeiro que realmente importa é oriundo de ativos geradores de renda passiva no longo prazo.
Você, que tem senso crítico e já leu 101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes do Tiago Reis e Felipe Tadewald, pode me trucar sobre a questão número 26. Para não deixar dúvidas, vamos reproduzi-la integralmente:
“26) Em qual investimento deixo o meu fundo de emergência?
Particularmente utilizo como fundo de emergência o fundo BTG Pactual Yield DI RF CP, que possui uma liquidez elevada, permitindo resgate em D+0, e entrega uma rentabilidade bruta próxima ao CDI.
Como utilizo a renda fixa apenas como um modo de ter recursos disponíveis imediatamente para poder comprar ações em momentos de volatilidade, ou para eventuais custos e despesas emergenciais, e não para simplesmente buscar rentabilidade, esse produto me serve muito bem.
É recomendável que para fundo de emergência o investidor utilize um fundo com liquidez imediata e com baixas taxas de administração, sendo que o ideal é que essa taxa não supere 0,5%.
Infelizmente fundos de renda fixa de grandes bancos geralmente cobram taxas abusivas, e oferecem rentabilidades baixas e, portanto, é interessante que o investidor busque esses fundos em plataformas de corretoras, que geralmente oferecem muito mais produtos.”
Conclusão
Portanto, se você está convencido de que a caderneta de poupança realmente não é um bom negócio, já tem o parecer de especialistas em investimentos sobre onde alocar seu fundo de emergência, mas isso não desmerece quem optar pela solução tradicional, acessível à maioria da população e aos investidores em começo de jornada.
Deixar por deixar dinheiro na caderneta de poupança é como ter um carro que nunca sai da garagem. Porém, se houver um propósito para este dinheiro – o tal do destino – então ela terá sua importância. Ela pode ser brega como a música de Waldick Soriano, mas isso no Brasil não é um problema, a não ser para alguns youtubers descolados.
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Como ativista de mobilidade, acredito que a comparação de dinheiro na poupança com carro na garagem São irracionais, pois um poupa e rende o que é benéfico a sociedade e o outro se sair da garagem além de tirar dinheiro do seu bolso ainda prejudica a saude de todos.
ResponderExcluirBiosbug, tanto o carro como o dinheiro foi feito para circular. Uso o carro para compromissos profissionais e ele é muito útil para mim. Mas não se preocupe, logo chegam por aqui os carros elétricos movidos por energia solar, graças ao mercado de capitais que financia as inovações tecnológicas.
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