sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Carta aberta aos candidatos de 2018

"As engrenagens do mercado de trabalho movimentam as engrenagens do mercado financeiro que ajudam a mover novamente as engrenagens do mercado de trabalho em tempo contínuo."

O período que antecede eleições gerais para deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República, é propenso para o debate de ideologias, propostas, projetos e requisições dos diversos segmentos da sociedade.

A polarização em torno da disputa sobre o cargo de presidente para comandar o Poder Executivo da República não é saudável, pois encobre as urgências que o Brasil precisa enfrentar através do Poder Legislativo, com apoio das lideranças estaduais.

Os números são alarmantes e sintetizados no contingente dos brasileiros desempregados: oficialmente são 13,7 milhões de cidadãos desocupados. No entanto, conforme o IBGE, falta trabalho para 27,6 milhões de pessoas em nosso território, no momento em que esta carta está sendo redigida.

Somos defensores do livre mercado e da possibilidade de cada brasileiro perseguir condições melhores de vida para si mesmo, e para sua família, através da iniciativa privada.

Acreditamos que por intermédio da Bolsa de Valores de São Paulo – que poderia ser uma dentre outras Bolsas no Brasil – grande parte dos brasileiros economicamente ativos podem construir uma carteira previdenciária que os tornem menos dependentes dos provimentos organizados pelo Estado.

O mês de agosto de 2018 se encerrou com 730.582 CPFs inscritos na B3 para investimentos em seus diversos produtos, dos quais destacamos as ações das empresas de capital aberto e as cotas de fundos imobiliários. Ou seja, menos de um milhão de pessoas físicas investem no mercado de capitais do Brasil enquanto quase 30 milhões de brasileiros estão sem renda proveniente de algum trabalho.

Sabemos que nosso país tem problemas estruturais que não podem ser resolvidos no curto prazo, nos quais as urgências se encaixam. Não podemos endereçar esta carta aos candidatos a cargos dos Poderes Legislativo e Executivo para defender somente os atuais investidores. Porém, nosso foco é pensar no longo prazo: faz parte da nossa natureza.

Entre os extremos pontuados por investidores da Bolsa de Valores e por milhões de desempregados, ainda existe a maior parcela da população economicamente ativa do Brasil, representada por mais de 70 milhões de pessoas que atualmente exercem algum ofício rentável.

Logicamente queremos que esta parcela aumente nos próximos anos e que milhões de empregos sejam gerados neste mandato que se aproxima. Porém, tão importante quanto a geração de empregos, é que o número de investidores na condição de pessoa física também aumente na Bolsa de Valores.

Em países de economia desenvolvida, como Estados Unidos, Japão e Inglaterra, milhões de cidadãos investem através das Bolsas, aportando recursos em empresas e fundos imobiliários. No Brasil poderíamos ser pelo menos cinco milhões de investidores, ao invés de apenas 730 mil.

Qual é a importância de termos mais brasileiros investindo no mercado de capitais, com o foco no longo prazo?

Através de ações de grandes empresas e de cotas de fundos imobiliários consolidados, os brasileiros podem, ao longo dos anos, promover a geração de renda passiva através dos dividendos distribuídos pelas empresas e fundos imobiliários.

Não estamos tratando de grandes especuladores de nível internacional, que levam seu dinheiro de país para país ao sabor das instabilidades globais. Estamos tratando de chefes de família, homens e mulheres, trabalhadores em diversos campos de atividade, aportando recursos poupados mensalmente na economia real do país. Ou seja, as engrenagens do mercado de trabalho movimentam as engrenagens do mercado financeiro que ajudam a mover novamente as engrenagens do mercado de trabalho em tempo contínuo.

Capitalizando através da Bolsa de Valores, as empresas podem desenvolver projetos de expansão de suas atividades, com menor endividamento junto às instituições bancárias públicas ou privadas. Estes projetos empresariais geram desenvolvimento para o país, por meio de criação de empregos e aumento do pagamento de tributos. Com isso, todos se beneficiam: os investidores, os empreendedores, o Estado.

Os fundos imobiliários também exercem um papel fundamental no crescimento de uma nação. Ao englobar o capital de milhares de investidores, estes fundos aumentam o padrão de qualidade dos empreendimentos imobiliários, difundindo a sustentabilidade das edificações, oferecendo suporte para atividades comerciais e industriais, com impacto positivo na infraestrutura de grandes cidades, em função das contrapartidas negociadas com as Prefeituras para a instalação de novos projetos.

Os fundos imobiliários que investem em LCIs e CRIs, bem como no desenvolvimento de empreendimentos imobiliários, aliviam o caixa de bancos públicos com vocação para o financiamento habitacional.

No curto prazo, o aumento do número de CPFs inscritos na Bolsa pode não surtir efeito imediato na economia, mas eles serão sentidos com intensidade crescente ao final de quatro, oito, doze anos – ou três mandatos – e assim por diante.

Quando investidores adquirem a independência financeira por meio da Bolsa, ou conseguem ao menos planejar sua aposentadoria através da renda passiva oriunda dos dividendos, eles aliviam o sistema público de previdência, gerido pelo INSS. Paralelamente, os investidores e suas famílias deixam de usar o SUS – Sistema Único de Saúde.

Com mais impostos gerados pelo crescimento da economia real e menos gente dependendo da Bolsa Família, por terem migrado para a Bolsa de São Paulo, o Estado terá mais recursos para cuidar de quem realmente precisa, através de investimentos intensivos em saneamento básico, na diversificação dos sistemas de transporte, no combate à violência, na ampliação da rede hospitalar e principalmente na educação de base, entre outras urgências de conhecimento público, como as reformas trabalhista, previdenciária, tributária e política.

A pequena comunidade de investidores brasileiros deseja crescer. Ela não está pedindo incentivos artificiais para tanto, do mesmo modo que não está querendo privilégios num país de contrastes sociais.

O que os investidores anseiam por parte dos Poderes da República, e isso inclui também o Poder Judiciário, são regras claras e previsíveis para investir. A previsibilidade no mercado de capitais traz segurança e confiabilidade para que novos investidores ingressem neste ambiente de negócios. Para tanto, é importante que estas regras não sejam alteradas radicalmente ao longo dos anos.

O mercado de capitais não tem todas as soluções para os problemas que afligem o Brasil. Mas todas as soluções que exigem algum tipo de financiamento necessitam de um mercado financeiro forte.

Nos próximos anos muitos projetos de lei, que envolvem diretamente os investidores, serão discutidos pelo Poder Legislativo, sendo propostos pelos próprios legisladores ou por agentes do Poder Executivo.

Não podemos ficar alheios a este processo e cabe a nós, investidores e eleitores, estreitar o contato democrático com nossos representantes. Ficaremos à disposição dos candidatos eleitos para debater os temas importantes que refletem na mentalidade do longo prazo. Este debate não se encerra com a contagem dos votos.

Saudações republicanas,

Jean Tosetto

Coautor do Guia Suno Dividendos

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Um comentário:

  1. O BRASIL CARECE DE ESTADISTAS, NÃO DE INFLADORES DO ESTADO E SUGADORES DA NAÇÃO.

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