segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A Fazenda Benedetti de Amparo

Antiga sede da Fazenda Benedetti.
Antiga sede da Fazenda Benedetti.

No domingo de manhã estava em casa, tentando ver a corrida da Formula 1, mas como os carros da Alfa Romeo Sauber não estavam liderando o Grande Prêmio de Singapura, disse para a esposa:

- Vamos dar um volta, senão vou enlouquecer aqui.

- Onde você quer ir hoje?

- Quero ver mato e respirar ar puro. Vamos conhecer a Fazenda Benedetti em Amparo.

Tinha visto na rede social que uma colega arquiteta, a Renata Navarro, tinha ido lá, e fiquei com o lugar na cabeça. Verifiquei pelo mapa que ele ficava na beira da estrada entre Amparo e Serra Negra, então embarcamos em outro Alfa Romeo. Não o de corrida. O nosso.

Chegando lá, a porteira ficava na beira da estrada, mas a sede não. Teríamos que subir uma encosta por, talvez, alguns quilômetros. Nunca tinha colocado o 156 na terra, então prometi que iríamos bem devagar: menos de 20 km/h.

Perto da porteira da fazenda, momento de descanso para 156 cavalos italianos.
Perto da porteira da fazenda, momento de descanso para 156 cavalos italianos.

O terraço de secagem do café, convertido em estacionamento, nem era tão longe - talvez uns 800 metros. De lá fomos caminhando para o Spazio Benedetti, diante de uma enorme varanda.

- Isso aqui não é aqueles puxadinhos que fazem lá em Paulínia. É uma varanda de verdade - disse para a esposa.

No fim dela tinha um velho trator estacionado. Saquei a máquina para fazer uma foto. Nisso um senhor de cabelos grisalhos e olhos azuis veio em minha direção. Tinha uma camisa cor de vinho com o símbolo da fazenda.

- Estou fotografando seu trator, pois lá em casa não temos um.

- Fique à vontade. Esse trator já trabalhou muito. Agora está descansando aqui.

Seu nome era Camilo, da terceira geração da família que cuida do lugar desde 1929.

Raro momento sem alguém na varanda. Só o fotógrafo e o trator.
Raro momento sem alguém na varanda. Só o fotógrafo e o trator.

Entramos na loja para experimentar uns licores. Ali havia também um alambique e uma adega, fora o empório com venda de produtos da roça. Difícil escolher o que levar para casa. Tomamos o café da tarde comendo bolo de fubá com calda de goiabada. Lembrei do médico e dos meus triglicérides. A gente cuida disso depois.

Seu Camilo perguntou se eu já tinha experimentado a cachaça deles. Respondi que não, pois estava dirigindo e na volta para Amparo tem um posto da polícia rodoviária.

- Se quiser tomar a nossa pinga eu te ensino um caminho diferente para voltar até Amparo: pegue o acesso para Monte Alegre do Sul, entre no distrito de Três Pontes. Depois da primeira ponte vire à direita. Você chega em Amparo.

- Não sou de beber, mas guiar por estradas diferentes é a minha pinga. Seguirei suas dicas. Obrigado!

Sou cara de pau. Vou conversando com as pessoas dos lugares que visito. De algumas vou virando amigo. Voltarei na Fazenda Benedetti com meus pais, mas não sei se o Camilo vai se lembrar de mim. Tem muita gente que vai lá.

De barriga cheia, demos uma volta pelos açudes da região. Era tudo que pretendia fazer naquele dia. Estava desenlouquecendo ao ouvir os pássaros cantarem e a bica de água pingando sobre o espelho da represa, fazendo ondas até as barrancas. O taquaral assoprava a tranquilidade em nossos ouvidos.

Imagem para aliviar o estresse da semana.
Imagem para aliviar o estresse da semana.

Minha filha pediu para nos mudarmos para uma fazenda. Ela queria ter o cavalo dela. Quem não queria?

Pegamos o caminho de volta. Fui pela rota que o fazendeiro me ensinou. Um recanto escondido e parado no tempo. Deu vontade de descer do carro a cada 50 metros para fazer fotos: da ponte velha, da mercearia de portas na calçada e da vila de famílias que secam roupa num quintal sem cercas. Do casarão abandonado, já no centro de Amparo, não me esqueci.

Tijolos à vista na quina do casarão decadente.
Tijolos à vista na quina do casarão decadente.

Nesta escapada sem planejamento algum, levei o CD do Muse, só por precaução. Na segunda música minha filha, de apenas cinco anos, ficou hipnotizada pelas pontes e refrões em motocontínuo:

- Toca de novo, pai.

- OK.

Acabou a música pela segunda vez:

- Quero ouvir de novo!

E de novo, e de novo, e de novo.

Traduzi uma parte da canção para minha esposa:

- Eu nunca vou deixar você ir, se você prometer que não vai desaparecer...

- Pára, pai! Eu quero ouvir a música!

O domingo estava ganho. Minha filha vai ser roqueira.


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2 comentários:

  1. Muito feliz em tornar sua experiência maravilhosa. Aguardo seu retorno para mais uma xícara de café. Jorge benedetti

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    1. Caro Jorge Benedetti, certamente voltaremos mais vezes. O Circuito das Águas Paulista é nosso destino favorito para pequenas viagens de fim de semana.

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