sábado, 24 de fevereiro de 2024

O prazer de guiar um Miata

O Miata literalmente recompensa o motorista que o trata com respeito.
O Miata literalmente recompensa o motorista que o trata com respeito.

Hoje fui pego de calças curtas, literalmente. Estava refestelado no sofá, terminando de ler "As paixões da alma" de Descartes e aprendendo a diferença entre remorso e arrependimento, quando escuto o ronco de um motor diferente cessando de funcionar na calçada. Era o meu amigo Nicoletti, de Itapetininga.

Neste fim de semana o Clube do Miata está completando 20 anos de fundação, num evento em Vinhedo, então ele fez uma barriga para me visitar aqui em Paulínia com seu Miata Mazda MX-5 de 1995. Miata significa "recompensa" em japonês.

Só deu tempo de calçar meu tênis de lona com solado liso, ideal para sentir os pedais de um carro esporte. O convite para dirigir um deles é irrecusável.

Fomos até a divisa do município com Americana e Cosmópolis, onde há uma estradinha com resquícios de uma época idílica, que combina com o estilo do carro.

Dirigimos o Miata praticamente sentado no assoalho, ajudando o centro de gravidade do conjunto a ficar bem perto do chão. Por isso, o veículo responde muito bem aos nossos comandos no volante, fazendo curvas como se estivéssemos deslizando por um trilho imantado.

O motor 1.8 de 4 cilindros não tem cavalos de sobra, apenas os cavalos suficientes para garantir a satisfação de guiar com o vento no rosto e o sol por testemunha. Ele não faz arrancadas brutais, mas não deixa a gente desesperançado numa ladeira. Vamos de boa, sabendo que se pisar no acelerador a resposta será imediata.

Por ter potência moderada, a composição do bloco do motor com o câmbio também é leve e, no fim das contas, é a leveza que nos entrega aquele espírito de esportividade, pois nos incentiva a tirar o que o carro tem de melhor para oferecer, como se estivéssemos montados num cavalo dócil, mas audacioso.

Essa sensação não é mera licença poética, mas algo ambicionado pelos projetistas do modelo. Ao menos foi isso que o Nicoletti me explicou, ao citar o termo "Jinba Ittai", expressão japonesa que descreve a relação simbiótica entre o cavalo e o cavaleiro. É essa harmonia próxima da perfeição que torna o carro tão divertido para guiar. Não por acaso, volante e alavanca de câmbio parecem extensões de nossos membros.

Queria estender o dia, mas isso o carro não faz.

Veja também:

Sobre a cadência para ler e escrever

"As paixões da alma" por René Descartes (Amazon)

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