sábado, 10 de julho de 2021

Devaneios escritos num 10 de julho

O Facebook tem uma ferramenta para te lembrar o que você postou em cada data, em anos passados. É algo interessante para constatar como já fomos ingênuos, ou idealistas, ou iludidos. Na maioria das vezes, quando acesso essas memórias, deixo elas trancadas em modo privativo. "Não deveria ter postado isso" - repito para mim mesmo. No entanto, de vez em quando sinto que escrevi algo mais perene. Neste caso, trago o conteúdo para este blog, que de certa forma nasceu da percepção de que não precisamos cultivar a horta de terceiros (Facebook) se podemos ter o nosso próprio pedaço de terra virtual (nossos blogs).

A seguir, reproduzo uma passagem escrita em 10 de julho de 2013:

Print Screen de imagem de satélite publicada pelo Google, sobre o loteamento Jardim Europa em Paulínia/SP.
Print Screen de imagem de satélite publicada pelo Google, sobre o loteamento Jardim Europa em Paulínia/SP.

"O assunto da vez é o vazamento de um segredo de estado: a espionagem que os Estados Unidos estão fazendo em escala global.

Vamos refletir um pouco?

Neste século 21 o usuário de Internet pode até ser ignorante, porém não lhe é reservado o direito de ser ingênuo, por uma simples razão: não existe privacidade na rede virtual.

Ao acessar qualquer site na Internet os dados do usuário estão expostos não apenas para agentes secretos da CIA ou da NSA, mas também para qualquer garoto aspirante a hacker.

Mesmo quem não usa a Internet ou o telefone celular, já é "espionável", senão vejamos:

1) Quando o Google tira uma foto de satélite que mostra a sua casa, o que é isso? Só uma coisa bacana? Uma facilidade para os amigos pesquisarem o caminho mais perto para ir no seu churrasco?

2) Quando a prefeitura de qualquer cidade usa a mesma imagem de satélite do Google para aumentar o valor do IPTU de um imóvel ampliado sem projeto, isso é só uma fiscalização ou uma invasão de privacidade?

3) Quando você publica uma foto no Facebook e perde uma vaga de emprego pois seu ex-futuro-chefe não gosta de gente tatuada que bebe cerveja, isso é o que? Uma investigação do setor de recursos humanos da empresa? Isso não deixa de ser espionagem, desta vez com a facilitação do próprio alvo da abordagem.

Reforçando: não existe privacidade e segurança absoluta nas telecomunicações. É muita ingenuidade imaginar que os países, não só os Estados Unidos, não fazem coleta de dados.

Ou você acha que o SPAM que vem da China, oferecendo um produto ou serviço que você precisa naquele momento, chega na sua caixa de entrada do e-mail por acaso?

No fim de 2012, na semana em que fechei o contrato com a gráfica do meu primeiro livro, recebi uma mensagem de uma gráfica chinesa, com valores absolutamente irrisórios. Mantive a palavra com a gráfica brasileira e não me arrependi. Mas quantas pessoas, no meu lugar, pensariam diferente?

Obviamente pescaram a informação de que eu estava pesquisando uma gráfica para o meu livro, através de palavras chaves digitadas na Internet.

Isso não deixa de ser assustador."

Um ano depois, foi isso que escrevi na rede social do Mark Zuckerberg, comentando uma fotografia de 26 de maio de 2013:

"O Neymar está indo para a Europa? Não se preocupem. Já estamos treinando os futuros craques do Brasil: Neylago e Neyrio."
"O Neymar está indo para a Europa? Não se preocupem. Já estamos treinando os futuros craques do Brasil: Neylago e Neyrio."

"Quando eu tinha doze anos de idade (no fim do século 20, faz tempo) era goleiro de futebol. Pedi para o meu pai me deixar treinar na escolinha do bairro João Aranha. Nosso técnico era de fato um professor, formado em Educação Física.

Ia começar o campeonato mirim da cidade e havia tantos jogadores que o João Aranha formou dois times. Um time forte e um time com a raspa do tacho. Para não ser reserva no time forte, fui jogar de titular no outro time, que se chamava Colorado.

Entramos no torneio sabendo que iríamos perder quase todas as partidas, e não deu outra. Mas eis que chegou o dia de enfrentar o time do River, que treinava no centro de Paulínia. Eles tinham o dobro da nossa altura e peso. Vamos lá: o importante é participar.

No final do primeiro tempo já estava 4 a 0 para eles. Quando o professor me trocou pelo goleiro reserva, deu a senha para os demais jogadores me acusarem de frangueiro: a culpa da goleada era minha!

O segundo tempo começou e o massacre apenas tomou vulto: 5, 6, 9 a zero. O goleiro deles começou a se arriscar na linha. De repente ele saiu tabelando com os demais jogadores. Foi bonito de ver, apesar do desespero: ele ficou livre na entrada da área e estufou a rede! Foi a primeira vez que vi um goleiro fazer um gol.

Resultado final: 12 a 1. Foi a maior derrota que sofremos jogando bola. Todo mundo saindo cabisbaixo do campo. O nosso goleiro reserva estava desolado. Fui o único a lhe dar um abraço e ele chorou no meu ombro. Caramba, tínhamos apenas doze anos!

A derrota é algo muito solitário. Especialmente quando alguém procura um culpado, como vão fazer com essa seleção brasileira que perdeu de 7 a 1 para a Alemanha.

Não tenho vergonha alguma de lembrar isso: perdemos por 12 a 1, mas no abraço que dei em meu amigo, o goleiro reserva, comecei a aprender sobre o valor da hombridade e da solidariedade. 

Nosso time do Colorado não abandonou o campeonato: seguimos em frente. A infância passou e hoje fico feliz em ver que muitos de nossos colegas de time são vencedores na vida. É isso que importa."

Deixem-me comunicar que Neylago e Neyrio não vingarão como jogadores de futebol, mas eles são dois estudantes incríveis. Ainda poderão ser craques no futuro, no que escolherem fazer de melhor.

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2 comentários:

  1. Jean Tosetto sempre certo. Ontem, hoje e, com certeza, amanhã.

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