sexta-feira, 5 de maio de 2017

Radical e livre

Publicado no Facebook em 05 de maio de 2016.
Capa do livro "Arquiteto 1.0" em expositor de madeira e pedra.

A Internet é repleta de conteúdos patrocinados, robôs e "cookies" que coletam dados de sua navegação para lhe enviar propagandas direcionadas. As campanhas publicitárias são planejadas para soarem espontâneas e muitos vídeos, tidos como amadores, na verdade são meticulosamente planejados para primeiramente emocionar, e depois vender algo. Isso faz parte do jogo e nunca escondi que estou nas redes sociais para divulgar o meu trabalho, seja ele remunerado ou não, pois tem muita coisa que faço primordialmente por paixão, sem visar um centavo de lucro.

Há mais de quinze anos mantenho um site sobre Arquitetura (JeanTosetto.com) cujo fim, teoricamente, é divulgar meus projetos. Mas há muitos anos me libertei dessa mera função mercantil para publicar algo que pudesse tocar as pessoas, mesmo que elas não sejam minhas clientes.

A pergunta mais velada que ouço, através dos olhares e gestos de muita gente, é: "O que você ganha com isso?" - Pois bem, de vez em quando aprecio enfrentar este questionamento. Leiam a mensagem que recebi da Jussara Ferreira:

"Que sorte a minha pesquisar no Google sobre Arquitetura e cair na sua página! Sou estudante de Arquitetura e Urbanismo em Minas Gerais pela Universidade de Itaúna. Assim como muitos alunos eu tenho minhas pedras no caminho da graduação, já tranquei duas vezes por falta de dinheiro... Ao ler sobre você, meu dia ganhou mais cores e minhas aulas serão com ainda mais entusiasmo daqui em diante. Amo a Arquitetura! É o meu sonho e vou conseguir!"

Logicamente respondi para ela:

"Prezada Jussara Ferreira, a sorte também é minha de poder ler palavras de incentivo como as suas. O entusiasmo por algo funciona também na base da troca de energia positiva que as mensagens carregam. Estou na torcida pelo seu sucesso. Grato!"

O mundo vai continuar fechando as portas para mim. E daí? Vou continuar abrindo as janelas. As panelinhas vão continuar com as tampas fechadas para este que vos tecla. Sem problemas: eu é que não serei cozinhado nelas. Isso vale para mim e para muita gente que lê as coisas que escrevo.

E escrever custa caro, meus amigos. Principalmente quando você não se preocupa em fazer média com o "establishment". Mas por causa das mensagens que recebo, como a da Jussara, sigo em frente confiante. E não vou terminar o texto sem divulgar meu livro mais recente: "Arquiteto 1.0 - Um manual para o profissional recém-formado", escrito em parceria com o professor Ênio Padilha.

Este livro não está nas grandes livrarias (pequenas panelas) e não está sendo divulgado pela quase totalidade das entidades profissionais (portas fechadas). Eu sabia disso antes mesmo de escrevê-lo, pois quem deseja fazer algo relevante não mede obstáculos. Já para aqueles que não querem fazer nada, qualquer desculpa serve.

Saiba mais a respeito em vivalendo.com

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Um comentário:

  1. Meu caro Jean Tosetto

    Primeiro, quero dizer, de coração, que é uma grande honra, um privilégio, dividir a capa de um livro com você (embora você seja o o autor de 70% do conteúdo do livro). Esse nosso (seu) livro tem sido muito elogiado pelos quatro grupos de leitores que eu considero mais importantes: (1) estudantes de arquitetura; (2) arquitetos recém-formados; (3) professores dos cursos de arquitetura e, muito importante, (4) os pais e mães de arquitetos recém-formados.

    Eu sei que é triste ver essa indiferença com que o Sistema Oficial tratou essa obra, mas, por estar a mais tempo operando nesse mundo de Conselhos Profissionais e Entidades de Classe, posso dizer pra você que já aprendi a lidar com isso com um pouco menos de angústias.

    A verdade é que, no nosso sistema profissional (tanto na Engenharia quanto na Arquitetura), os valores são um pouco diferentes. As pessoas são valorizadas e consideradas "lideranças" se elas são gestoras de votos. Existe muito pouco espaço ou valorização para autores, pensadores, empresários ou profissionais reconhecidos pelo domínio da técnica. Basta ver nos chamados "Encontros de Lideranças" dos sistemas. Não existe uma agenda que contemple os pensadores independentes, os empresários e os profissionais reconhecidos do mercado.

    Oscar Niemeyer, por exemplo, só foi lembrado para receber a medalha do mérito do Confea em 2004, quando já tinha 96 anos. Paulo Mendes da Rocha nunca foi lembrado. Manuel Henrique Campos Botelho (autor dos livros Concreto Armado Eu te Amo, um clássico da literatura de construção civil no Brasil) nunca foi lembrado. Joaquim Cardozo, que fez os projetos estruturais das obras originais de Brasília... nunca!

    Grandes empresários do mundo da Engenharia, nunca são lembrados pra nada, a não ser que façam parte da diretoria de alguma entidade de classe ou que sejam conselheiros de algum Crea.

    Resumindo. O sistema tem um olhar somente pra dentro de si mesmo. Isto é uma coisa difícil de mudar. Eu tenho feito um esforço danado para conseguir mudar isso, muitas vezes queimando meu próprio filme (porque o pessoal se ofende fácil e, muitas vezes, promovem retaliações ao seu trabalho).

    Mas eu tenho certeza de que as conquistas que eu obtive nesse campo se devem, certamente, ao fato de que, durante os primeiros 12 anos da minha atuação profissional, eu fui, em tempo integral, um profissional de dentro do sistema, como diretor de entidades de classe e como agente do Crea do meu estado. Isso, sem dúvida, facilitou a minha inserção no meio.

    O que eu quero dizer é: tenha paciência e continue a sua luta. O seu trabalho é belíssimo e receberá, no devido tempo e por quem realmente importa, o devido valor.

    O sistema profissional não é tudo. Felizmente, existe muita vida aí fora, no mercado. Mais de 80% dos profissionais de Arquitetura e de Engenharia não fazem parte ativa do sistema. Basta ver o índice de participação nas eleições não obrigatórias.

    É lá que está o seu público. Continue trabalhando para essas pessoas. Continue fazendo o seu melhor. E continue sendo radical e livre.

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