quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Tirando o pó das lembranças

Tirando o pó das lembranças: texto publicado originalmente no Facebook em 25 de janeiro de 2014.

Nesta semana senti que deveria fazer uma visita aos meus pais. Não seria para tratar de um assunto específico. Seria uma visita sem hora marcada apenas para conversar sobre amenidades, como era no tempo em que morava com eles. Esse tempo já foi embora, mas era muito bom.

Lembro de quando era criança. As vezes meu pai chegava um pouco mais cedo do trabalho e avisava que a gente iria ao Shopping. O Iguatemi era novinho em folha, numa Campinas que ainda pulsava como a cidade das andorinhas.

A gente comia pizza no Amaretto, que existe até hoje. Depois íamos para o Museu do Disco - muitas vezes só para paquerar as capas. De vez em quando meu pai abria a torneira:

- Hoje cada um vai poder escolher um LP!

Que emoção. Nossos olhinhos brilhavam. Meu irmão mais velho era mais antenado com as bandas da época: Titãs, Barão Vermelho, Raul Seixas, Lobão e os Ronaldos. A irmã caçula se ligava mais em Balão Mágico e álbuns de novelas.

Eu só queria saber dos Beatles. A dúvida cruel era para escolher se eu levaria para casa o "Rubber Soul" o ou "Revolver" primeiro. Como era bom ouvir um disco dos Beatles pela primeira vez.

Um dia, deslizando os dedos sobre as capas, encontrei um álbum diferente. Era só do George Harrison, cercado por duendes num grande jardim, numa foto em preto e branco. Anos depois fui saber que era o clássico "All Things Must Pass". Tudo a ver com o que escrevo agora.

O vendedor da loja correu na minha direção. Eu só tinha uns oito anos de idade e ele teve medo que eu danificasse um dos três discos que fazia parte do encarte. Três discos numa embalagem era uma grande ousadia. Ele tirou o pacote da minha mão e o guardou num lugar mais alto. Um exemplar original desse álbum vale hoje uma pequena fortuna.

Naquele dia meu pai levou uns três ou quatro discos para casa. Minha mãe havia escolhido um Long Play da orquestra de Herb Alpert, que surrupiei para mim quando casei. Aquele vendedor zeloso pelo disco do George deu de brinde para nós um tira-pó, para limpar o vinil antes de escutar. Bastava ligar a vitrola e deixar o treco levemente pressionado sobre a bolacha.

Fiquei anos sem ver este artefato. Curiosamente, na visita que fiz ao meus pais nesta semana, o tira-pó apareceu nas mãos do meu afilhado, que pensou que aquilo era um brinquedo.

Dei uma de vendedor do Museu do Disco e tratei de me apossar desta relíquia, que obviamente vale como um tesouro para mim.

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