terça-feira, 9 de agosto de 2016

A felicidade também é expiatória

A cabrita se alimenta em Holambra, durante a Expoflora de 2015. (Publicado originalmente no Facebook em 28 de setembro de 2015)
A cabrita se alimenta em Holambra, durante a Expoflora de 2015.

Nas redes sociais existe um grupo de pessoas que só reclama da vida, da política e dos outros. Em geral essas pessoas acabam isoladas ou aderem ao comportamento mais comum: mostrar só o lado bom das coisas.

Através de um perfil na internet temos a impressão de que estamos cercados de gente que leva uma vida maravilhosa, mas sabemos que isso não é verdade.

De minha parte, claramente uso as redes sociais com o propósito divulgar meus projetos - sejam arquitetônicos, sejam culturais.

Ninguém planeja ficar de bode, mas é óbvio que isso acontece de vez em quando. Não é todo projeto que a gente fecha. Não é toda ideia que vai para frente, mas esses pseudo-fracassos nós escondemos, não é mesmo?

Escrevo "pseudo-fracassos" pois entendo que sempre podemos aprender algo que converta um fracasso numa lição ou num sucesso futuro.

Demora, mas um dia compreendemos que é preciso ver o lado bom das coisas, mesmo num dia ruim, que nos deixa de bode, e coitado do bode jogado para o papel de expiatório. "Tirem o bode da sala" - costumam dizer os cínicos, mas isso não resolve o problema.

Sabe o que me deixa de bode? Ter que fazer algo que não me interessa. Levar a esposa para a Expoflora de Holambra, por exemplo: todo ano ela quer ir. E eu a levo, pois lembro que já a arrastei para um Salão do Automóvel de São Paulo e para um show do Lynyrd Skynyrd. Sei que ela foi para me agradar, acima de tudo, então devo muitos favores para ela, que prefere o A-ha.

Neste ano tentei transformar este passeio forçado numa coisa legal e penso que deu certo, apesar da fila para estacionar o carro, da fila para comprar bilhetes, da fila para entrar no recinto e da fila para ver as principais atrações.

Levei minha câmera fotográfica em busca de uma só foto que valesse o dia. E ela mostra uma cabrita, vejam só: a fêmea do bode! O que a foto não mostra é minha filha de dois anos de idade, que viu uma cabrita pela primeira vez na vida. Como eu admiro as crianças, que verão coisas pela primeira vez na vida sucessivamente.

De repente, a chatice daquele dia evaporou. Ver minha pequena família feliz me deixou feliz. E assim a vida se preenche com alguns momentos inesperados de felicidade. Mas pode apostar que isso não acontece o tempo todo.

Um dia minha filha vai ficar de bode também. Tentarei explicar para ela que isso não é necessariamente ruim. Não é para ser.

2 comentários:

  1. Momento POESIA.
    Falou em felicidade de filho... a gente se derrete todo

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    1. Quando nos tornamos pais, o centro de nossas vidas muda pela segunda vez, saindo do "eu" passando pelo "nós" (o casal) e chegando neles, os filhos. Quem não percebe, ou não assume tais mudanças, não compreende o sentido da existência humana.

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