Dia de bater laje. Dia de festa. |
Quando a gente está na faculdade, não vê a hora de se formar e começar a trabalhar. Mas se tenho um conselho para o estudante de Arquitetura hoje é: não tenha pressa. Os anos acadêmicos são muito bons e, com todo respeito, as meninas, futuras arquitetas, costumam ser lindas, muito bonitas mesmo.
Elas andam pelos corredores com suas sapatilhas hippies e saias floridas. Estão sempre perfumadas. Trazem sempre um sorriso no rosto, de modo que a preocupação que a gente tem nesta época da vida é se vamos assistir a uma palestra do Christian de Portzamparc, ou se vamos esticar a tarde até uma estreia no cinema - quem sabe um filme com Uma Thurman, dirigida por Quentin Tarantino.
Ao se formar, tudo isso acaba para quem desiste de fazer o mestrado na sequência. Você começa a fazer projetos e acompanhar obras, e o que você vê pela frente? Só peão. Não tem mais meninas perfumadas, apenas gente barbada usando a calça surrada pela segunda semana seguida. Eles até sorriem, mas lhe faltam alguns dentes, e algum charme.
As questões filosóficas dão lugar ao pedreiro perguntando onde a gente quer colocar o suspiro na obra. Que diabos é esse negócio de suspiro? Explica melhor? Ah, é o respiro! Para ventilar o ramal do esgoto. Melhor colocar junto com a prumada para o pavimento térreo. Quando o suor chegar na sobrancelha, você se lembrará dos bons dias que teve na faculdade.
Mas deve ter alguma coisa boa nesse negócio de obra...
Tem sim, são nas construções onde o patrão é generoso e libera o tradicional churrasco no dia de bater a laje. É um dia de festa. Mais uma família que ganha um teto, literalmente. E a gente se diverte com os peões, se vestindo como um deles. Botina no pé e muitas piadas na cabeça.
E toca reclamar da presidenta e do governador, por causa do caminhão betoneira que atrasou. É o nosso time de futebol que vai ganhar e o time do outro que perdeu. Tem gente que prefere passar o dia trancado num escritório, conferindo balancetes. Hora de virar o espetinho na churrasqueira, improvisada com tijolos de barro que serão requeimados quando o carvão arder.
Subitamente a gente lembra que tem um diploma e recupera a compostura, com aquela sensação de meta cumprida, pensando na esposa cheirosa que está em casa, e na garotinha que, se um dia também cursar Arquitetura, vai ficar na doce memória de um colega de classe, que estará acompanhando a concretagem de uma laje dentro uns 30 e poucos anos.
E se algum estudante se meter a besta com a minha menina, eu estarei lá, com olhos de lince! Eu sei como pensam esses caras. Já fui um deles.
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