Relato escrito em 10 de maio de 2014. |
A neném não parava de chorar. Não queria dormir. O colo da mãe já não resolvia. Coloquei minha filha no carrinho e fui passear pelos cômodos da casa. Ela acalmou um pouco, mas na hora de voltar para o berço abriu o berreiro.
Quase duas da madrugada. Lembrei de casais que faziam as crianças dormirem dando uma volta de carro. Lá vamos nós, de pijamas, sem lenços, porém com documentos. A garota berrava até no momento de afivelar o cinto da cadeirinha.
Dei partida no motor. Ela se aquietou. Na primeira esquina que viro à direita ela dormiu. O passeio continuou para dar tempo de chegar o sono pesado. Fui até o centro da cidade.
Fomos parados por um controle da Polícia Militar. Documentos, por favor, e puxe esse freio de mão. Disse que estava ninando minha filha. E daí? Olhei para o outro guarda, que estava com um trabuco desproporcional ao reles giro pela cidade.
Estava tudo em ordem. Antes de partir perguntei até que horas ia o plantão. Até as sete da manhã. Desejei bom trabalho para eles e consegui uma mínima mudança em seus semblantes embrutecidos.
Fui até a rua da primeira casa onde morei. Passando por ela, me lembrei de quando sentava no banco de trás do carro, com meu pai ao volante. Lembrei de como ele reduzia a marcha antes de manobrar para estacionar na garagem.
Lembrei dele alternando os movimentos na alavanca do câmbio para certificar se estava realmente em ponto morto. Tive a impressão de que desceria do carro para abrir o portão. Como era bom chegar em casa.
Mas aquela casa virou um consultório odontológico.
Voltei para a minha casa, de fato, e não consegui mais dormir.
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