Vista da Cidade Maravilhosa a partir do Cristo Redentor em 1996, quando o Rio ainda respirava sem aparelhos. |
O Rio de Janeiro quebrou: em todos os sentidos. A intervenção federal na área da segurança, em pleno Carnaval de 2018, lembra a visita de um padre no hospital, para dar a extrema-unção para o paciente.
A imprensa entrevista políticos, militares, policiais, sociólogos, membros de ONGs. Querem saber o que pode ser feito para salvar a cidade.
Em geral respondem que, onde o Estado não está presente, o crime organizado toma conta.
Ironicamente nunca entrevistam arquitetos. Para o CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, todo arquiteto também é urbanista, mas eles nunca são ouvidos.
Porém, o problema está relacionado diretamente com eles. Se o Estado não se faz presente nas comunidades - ou melhor: nas favelas - é sinal que elas não estão urbanizadas.
Querem acabar com a violência no Rio de Janeiro? URBANIZEM A CIDADE!
E cadê os arquitetos e urbanistas? Estão tomando café nas vernissages. Alguns querendo participar de bienais estrangeiras e outros de concursos cujos vencedores nunca verão seus projetos construídos.
Se o Rio de Janeiro e várias outras cidades do Brasil estão na falência, também é culpa de nós, arquitetos e urbanistas. Pecamos por omissão. Permitimos que a politicagem e a especulação imobiliária fizessem o trabalho que era para ser nosso: planejar as cidades.
Disso resulta que a maioria das cidades não tem qualquer planejamento, condenando a maior parte delas ao fracasso quase irreversível.
Somos parte do problema, mas podemos ser parte também da solução, a partir do momento que sairmos dos muros das universidades e dos condomínios - além das páginas das revistas de jardinagem - para apresentarmos propostas para urbanizar este país com redes de água, esgoto, energia, comunicação, endereços regularizados e espaços públicos de qualidade que integrem moradores ao conceito da urbanidade, que vai além do urbanismo, pois passa pela retomada da educação como tema central de uma República.
A gente liga nos programas de debates da TV e só vemos advogados e filósofos fazendo comentários nas bancadas, sobre qualquer assunto. Nos programas voltados para as mulheres, só discursam médicos e psicólogos entre artistas do canal.
Quando um arquiteto aparece, muito de vez em quando, é para dar dicas de decoração do tipo "transformar caixa de feirante em estante de livros que ninguém lê, mas que acumulam poeira pra caramba". Eu fico possesso com isso.
Mas ficar revoltado não resolve. O que resolve é botar a boca no trombone e a minha parte eu comecei a fazer agora.
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