Frame do curta metragem "Eternidade", de Flávio Carnielli. |
Conheci o diretor e produtor de cinema Flávio Carnielli num encontro de carros antigos realizado em Paulínia. Ele estava procurando proprietários de veículos nacionais dos anos de 1960 a 1980 que pudessem emprestar os carros para gravar cenas para seu projeto de longa metragem "O Nascimento de Mary Black" - uma alegoria sobre corridas automobilísticas onde o que importa é permanecer vivo.
Acabei emprestando meu MP Lafer 1974 e meus dotes de canastrão para algumas sequências do filme e desse contato surgiu uma troca mútua de favores. O Carnielli e sua esposa, Helen Quintans, fizeram a cobertura fotográfica do lançamento do meu livro "Arquiteto 1.0" em Campinas.
Os projetos cinematográficos do Flávio e os meus projetos literários tem algo em comum: são realizados de forma independente, sem qualquer subsídio governamental. Temos em comum, também, as portas fechadas para a divulgação de nossos trabalhos em grandes veículos de comunicação. Cada um, ao seu modo, vive fora das panelinhas de seus ofícios. É por isso que respeito o Flávio. Ele é adepto da escola do "livre pensar", da qual também faço parte.
Há alguns dias recebi o convite do Flávio para prestigiar a estreia de seu curta metragem "Eternidade", estrelado e co-produzido pelo ator Filastor Brega, que também conheci durante as filmagens de "Mary Black".
Serei franco com você: fui ao cinema do Shopping Parque Prado em Campinas mais pela consideração ao Flávio, como pessoa, do que movido pela curiosidade de ver seu filme que, na minha cabeça de arquiteto comportado, seria um exercício de experimentação de linguagem de difícil compreensão. Porém, fui surpreendido pela qualidade da produção em todos os sentidos.
Antes da exibição de "Eternidade" os espectadores foram anestesiados com a exibição de outro curta metragem do Flávio e da Helen - o doce e poético "O Livro da Salvação", semifinalista da 39ª edição do Festival Internacional de Cine Independiente de Elche, na Espanha. Depois fomos chacoalhados pelo trailer de "Mary Black" onde até meu MP Lafer apareceu de relance, atiçando a curiosidade pelo lançamento do filme.
Então, no ecrã, as imagens em preto e branco, inspiradas no cinema expressionista alemão, tomaram conta da sala. A trama, centrada num casal separado pela morte que recorre à "Deusa da Eternidade" para se reencontrar, traz referências aos escritos de Edgar Allan Poe. Porém, mesmo quem nunca assistiu "Nosferatu" ou leu qualquer conto de Poe, foi capturado pela atmosfera sombria e distópica criada por Carnielli, demonstrando domínio absoluto de técnicas cinematográficas fora de uso há várias décadas no cinema convencional.
Os diálogos foram suprimidos na trilha sonora do filme, e compreendidos através de legendas intercaladas com as cenas, como no cinema mudo de antigamente. Aliás, a trilha sonora composta e conduzida por Fabiano Negri é o único elemento que nos remete aos tempos atuais, com uma tocada de Pop-Rock ora empolgante e ora reflexiva, casando perfeitamente com o ritmo proposto por Carnielli.
O trabalho cenográfico de Helen Quintans e as atuações de Amanda Costa e Andréa Sesso seguem na mesma toada. Quase não dá para acreditar que se trata de uma produção realizada exclusivamente em Campinas, mas para quem é campineiro como eu, esta é somente mais uma das satisfações que temos, ao reclamar que o filme terminou cedo demais.
Fico imaginando quando o Flávio resolver homenagear outros estilos de cinema e grandes diretores, como Alfred Hitchcock e François Truffaut. Não resta dúvidas de que capacidade para tanto ele tem de sobra. Desde já o considero como o "Tarantino brasileiro". Só falta algum crítico isento do cinemão descobri-lo, para que ele e sua trupe possam alçar voos mais altos além do circuito de Campinas e região.
Fico muito feliz com comentários como este, onde duas pessoas do literário fazem de forma autônoma as suas investidas culturais.
ResponderExcluirParabéns pelo cometário Jena. Só aumentou a minha vontade de assitir pois ontem não me foi posspivel. Fuqeuei trsite por isso, mas aguçou a minah vontade de conhecer essa gente boa da Cultura Cinematográfica. Vou sugerir para apresenta-lo em Paulínia no Shopping. Contem comigo para esse Evento.
Abraços, QWalter Costa - Paulínia/sp
Caro Walter, todo apoio e incentivo espontâneo para a cultura popular e independente é bem vindo.
ExcluirBrilhante artigo ! Também estava na sessão do curta ontem & concordo em gênero , número & grau , Tosetto !
ResponderExcluirVery thanks, teacher!
ExcluirFantástico!
ResponderExcluirValeu!
ExcluirEu vou guardar isso pro resto da vida, Jean. Muito obrigado!
ResponderExcluirCaros Flávio e Helen, vocês merecem muito mais. Abraço!
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