sexta-feira, 15 de junho de 2018

No lounge de um aeroporto

Agradecimento ao Professor Ricardo Meira pelo mote ofertado.
Agradecimento ao Professor Ricardo Meira pelo mote ofertado.

Ela sempre sonhou em ser modelo, desde criança. O pessoal da família sempre dizia que ela era linda e levava jeito para desfilar. Antes de dormir, ele se imaginava em capas de revistas, trabalhando com editoras de moda, frequentando lounges de aeroportos internacionais.

Ele sempre sonhou em ser executivo de uma grande empresa. Seus amigos admiravam sua inteligência e aptidão para os estudos. Acordava cedo e, ao dar o nó na gravata antes de pentear o cabelo, já se imaginava caminhando apressadamente pelos lounges de aeroportos internacionais.

Certo dia a beleza da menina foi notada por uma recrutadora de talentos, que a levou para trabalhar por um período de experiência numa grande editora. Será que finalmente seu sonho seria realizado? Ela ficou ansiosa pelo primeiro dia de trabalho.

Um dia, na empresa, finalmente chegou o reconhecimento para ele, na forma de uma promoção: agora ele seria auditor de contas das filiais do negócio. Faria sua primeira viagem de avião. Nada mal para quem sacrificou a vida familiar em nome da carreira.

Na véspera do grande dia ela jantou com seu pais. Contou que estava ansiosa para mostrar seu talento. Quem sabe aquele trabalho como promotora de vendas não lhe abriria portas para oportunidades futuras? Nem conseguiu dormir direito.

Com as passagens no bolso do terno amarrotado, ele voltou para seu apartamento e esquentou a marmita no microondas. Estava habituado a fazer refeições sozinho, revisando seus afazeres e perguntando a razão de ainda não ser o chefe. Como sempre, demorou para pegar no sono.

O grande dia chegou. Ela foi até o aeroporto da grande metrópole com sua melhor roupa. Caprichando na maquiagem e no perfume, aos poucos seu nervosismo foi sendo atenuado ao conversar com outras meninas na mesma situação.

Atrasado devido ao trânsito carregado, ele desceu do táxi e caminhou com pressa até o balcão de embarque. Seu voo partiria em breve, mas antes havia tempo para um café. A empresa reembolsaria todas as despesas. Isso lhe parecia o máximo. 

A caminho da lanchonete, algo inusitado lhe ocorreu: uma bela mulher se aproximou.

- Olá senhor, bom dia!

- Bom dia! Não precisa me chamar de senhor! - ele respondeu. Há anos seu coração não batia mais forte, pois nunca uma garota tão charmosa havia lhe dirigido a palavra de forma tão direta.

- Me desculpe - ela emendou um sorriso, e continuou: - Você gostaria de ganhar um brinde?

- Do que se trata?

- É que eu trabalho para a Editora Fechol. Ao fazer uma assinatura da Revista Ousseja, você já leva um exemplar para ler no avião!

- Não, não estou interessado! - ele respondeu de forma ríspida, desapontado pelo motivo da aproximação da moça.

- Nós podemos parcelar no cartão de crédito - ela, treinada, insistiu.

- Eu já disse não! Não me amole! - e saiu dando as costas para a garota, que tentava fazer sua primeira venda.

"Que sujeito grosso" - ela pensou.

"Que menina chata" - ele remoeu.

Ambos estavam ali, num lugar que povoava seus sonhos. Mas ninguém teve a gentileza de agradecer por aquele momento.


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