terça-feira, 16 de maio de 2017

Sonhos de consumo versus sonhos propositivos

Obviamente, o objetivo é que nossa poltrona se torne o sonho de consumo de alguém, pois os sonhos de consumo também movem o mundo. Mas tudo começa com uma proposição. É assim que vamos embalar nossa poltrona.

Sempre considerei a expressão "sonho de consumo" algo pedante. Um clichê abominável. Quando uma pessoa diz, perto de mim, que tal coisa é seu sonho de consumo, me contenho para não ser rude na resposta.

"Meu sonho de consumo é ter uma Ferrari."

Nunca tive esse sonho. Nunca sonhei sequer em ter um MP Lafer 1974, mas quando ganhei ele de meus pais - aos 21 anos de idade - logo passei a sonhar que um dia viajaria com o carro até a Patagônia. Viajar não é um sonho de consumo, mas nunca me ocorreu de pensar numa classificação para este tipo de sonho.

Hoje essa ideia me veio em mente. Viajar com um carro velho - de valor ínfimo, se comparado com qualquer Ferrari - não é um sonho de consumo, é um sonho propositivo. Se você se propõe a fazer, fica mais fácil realizar.

Tem gente que sonha em ter uma guitarra Rickenbacker. Meu sonho é conseguir aprender a tocar, de forma razoável, três acordes. Dado a minha falta de aptidão, se um dia conseguir fazer um cover de "Tired Of Waiting For You" dos Kinks, me darei por satisfeito.

Está certo que já sonhei em ter a casa própria. Seria um sonho de consumo se não fosse o casamento com outro sonho: construir a própria casa. O verbo "construir" combina mais com uma proposição do que com o ato de consumir.

Já tive o sonho de escrever um livro e realizei ele duas vezes.

Tenho sonhos em aberto, numa longa fila, aguardando a realização. Pintar quadros, desenhar novamente uma história em quadrinhos, projetar móveis. Este sonho eu passei na frente.

Neste momento, estou trabalhando no primeiro projeto. Para ser mais preciso, estou observando o protótipo enquanto escrevo. O marceneiro Doni Grandini é meu parceiro nesta jornada. Ele comprou o meu sonho, que virou o sonho dele também.

Embora ele tenha comprado o sonho, não é um sonho de consumo. É um sonho propositivo.

Obviamente, nosso objetivo é que a poltrona se torne o sonho de consumo de alguém, pois os sonhos de consumo também movem o mundo. Mas tudo começa com uma proposição. É assim que vamos embalar nossa poltrona.

Se ela vai ficar linda ou ordinária, agora não vem ao caso. O processo criativo já está me revigorando - este, em si mesmo, já vale o empenho. Abri minha mente para novas ideias e pontos de vista. Queria que você pudesse sentir isso, neste instante.

Nessa jornada não estamos nos consumindo. Estamos nos reinventando.

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4 comentários:

  1. Olá,sou um estudante e estou tentando escolher uma profissão e arquitetura e uma das profissões que mais gosto,mas eu não gostaria de fazer apenas arquitetura gostaria de fazer por exemplo:engenharia civil. Mas não sei se vale a pena fazer arquitetura e ao mesmo tempo engenharia civil por isso te pergunto vale a pena ?
    E só mais uma coisa,e melhor fazer arquitetira no Brasil que já é meu país de origem ou deveria arriscar em outros países como EUA,Canadá,França e etc

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    1. Olá, as melhores faculdades de Arquitetura e Engenharia exigem muito do estudante. Portanto, não recomendo fazer os dois cursos ao mesmo tempo, pois o desempenho em ambos pode ser prejudicado.

      No Brasil existe um sombreamento entre as atribuições de arquitetos e engenheiros civis: ambos podem assinar projetos e gerenciar obras - mais uma razão para focar em apenas um curso.

      Sobre estudar fora do país, verifique se há acordo para convalidar o diploma entre as nações, pois são poucos os países onde isso ocorre. Considere esta opção se você já for fluente no idioma do país desejado, pois aprender uma língua estrangeira junto com uma faculdade específica não me parece producente.

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  2. também acho a expressão "sonho de consumo" repugnante (e de onde surgiu isto?) - consumismo é algo totalmente obsoleto, consumismo está proximamente relacionado com obsolescência planeada, e com dinheiro, e dinheiro associado a corrupção, abusos, crimes, desigualdades sociais, etc.

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    1. Quem consome demais, poupa de menos. E não consegue investir naquilo que realmente importa: nos sonhos propositivos.

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