sexta-feira, 4 de maio de 2018

São Paulo desmoronando? A culpa também é dos arquitetos


A favelização verticalizada no centro histórico de São Paulo: um processo que se iniciou na década de 1970 ((fotografia de maio de 2015 publicada originalmente em JeanTosetto.com).
A favelização verticalizada no centro histórico de São Paulo: um processo que se iniciou na década de 1970 (fotografia de maio de 2015 publicada originalmente em JeanTosetto.com).

O edifício Wilton Paes de Almeida em São Paulo, que desabou no Dia do Trabalho após incêndio causado por ocupação irregular para moradias precárias, foi projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol, que nasceu em Paris, França, pois seus pais eram fugitivos da perseguição aos cristãos na Síria.

Ironicamente a tragédia ocorrida com seu trabalho mais emblemático arruinou também a sede centenária da Igreja Martin Luther - igualmente patrimônio histórico e arquitetônico da cidade.

O momento é para se preocupar com vítimas humanas, em primeiro lugar. Ninguém questiona isso.

Porém, recebo correspondência eletrônica do CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo - aglutinando artigos sobre o desastre.

Procuro as notas oficiais do próprio CAU/SP e também do IAB/SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil em São Paulo) e do SASP (Sindicato dos Arquitetos de São Paulo).

Zero menção para o patrimônio arquitetônico tombado da Igreja Luterana. Alguma coisa sobre o edifício projetado por Zmekhol e muita politicagem, com ataques camuflados às "esferas do poder que não se entendem", como se os arquitetos e urbanistas fossem completamente isentos das coisas erradas que acontecem nas cidades.

Os moradores desabrigados seguem desamparados. Provavelmente seguirão para outras ocupações organizadas por movimentos ditos sociais que afrontam as autoridades públicas e debocham dos pagadores de impostos ao cobrarem aluguéis clandestinos dos miseráveis.

Estas organizações não deixam sequer a filha do arquiteto Roger Zmekhol entrar no prédio que o pai projetou para registrar imagens para um documentário, mas gozam da simpatia das entidades que teoricamente representam os arquitetos.

Nós, arquitetos, estamos falhando mais uma vez. Éramos para discutir soluções para as cidades, e mais do que isso: apresentar propostas concretas.

Eu, por exemplo, defendo o êxodo urbano. São Paulo e Rio de Janeiro são megalópoles que precisam parar de crescer e, de certo modo, serem esvaziadas. A discussão é séria, mas infelizmente não está no foco de quem deveria conduzi-la.

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