quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

É São Paulo, mas poderia ser a Roma Antiga

A bandeira de São Paulo no topo do arranha-céu.
A bandeira de São Paulo no topo do arranha-céu.

A estação do metrô de São Bento, no centro histórico de São Paulo, tem várias saídas. Procuro a mais próxima, ansioso para ver a luz do sol novamente, feito alguém que faz um mergulho em apneia pelas profundezas do mar de concreto armado. Antes de pisar na calçada, pergunto para o sentinela onde fica a Rua Líbero Badaró.

- Suba até a esquina, vire à direita e acompanhe o fluxo dos carros - disse ele, prestativamente.

Espremido entre as edificações, vejo ao fundo, na estreita linha do horizonte, o antigo prédio do Banespa, uma agulha apontada para o céu inspirada no Empire State Building de Nova Iorque. Porém, na penumbra com a garoa intermitente, me sinto em Gotham City.

Passo diante do mosteiro de São Bento e caminho até o destino, o saguão de um prédio onde me encontraria às 11:15 da manhã com o motivo da viagem até a capital. Uma espiada no relógio e percebo que estou adiantado, cerca de vinte minutos: tempo para uma breve pernada pelas redondezas.

Numa travessa, recebo uma lufada de vento, trazendo o skyline da grande metrópole se descortinando diante de mim. Finalmente tenho a impressão de receber as boas vindas da cidade, que logo me trata com a indiferença que a faz ser amada e odiada na mesma proporção.

Imediações do Vale do Anhangabaú.
Imediações do Vale do Anhangabaú.

O indigente sentado no chão, a poucos metros de uma pilha de cadeiras de plástico, me faz sacar a máquina fotográfica, com medo de ser assaltado. Faço cara de mau. Olho para os lados antes de clicar. Ninguém se importou. Foi a senha para flanar pelos calçadões, feito um fantasma.

O senhor, recém saído da meia idade, parece ainda mais velho com seu chapéu Panamá, terno, gravata e colete sobre um par de sapatos brancos de bico fino preto. O braço esquerdo flexionado serve de anteparo para um guarda-chuva e seu caminhar manso contrasta com o balanço do sujeito que cruza seu caminho, de cabelo rastafari, camisa florida e sandálias esgarçadas.

Sigo em frente até o Viaduto do Chá. Atrás das árvores me espera o Teatro Municipal. Não tenho tempo de ir até lá. Não tenho tempo para mais nada. Me apresso para não perder a hora. Subo as escadarias de volta para a Rua Líbero Badaró, feito um jogador de futebol ingressando no gramado do estádio.

Você consegue ouvir a torcida vibrando?
Você consegue ouvir a torcida vibrando?

E é assim que decido me comportar: como um gladiador que vai para a arena matar o leão do dia. Se você não tiver essa atitude na loucura da Grande São Paulo, ela te engole feito um peixe que se esconde num cardume, mas vai parar direto na barriga da baleia.


Veja também:

4 comentários:

  1. Adoro aquela região do entorno do Mosteiro de São Bento. Vou lá, sempre que posso (quando estou em São Paulo). Me senti lá, com essa sua crônica. Tks

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fiquei muitos anos sem visitar a região. Espero voltar mais vezes e acredite se quiser: tem paulista que nunca foi lá.

      Excluir
  2. Muito bom o texto Jean! Trabalhei 3 anos na Rua Líbero Badaró no 20º andar, tinha uma vista fantástica da cidade. Abs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Nuno. São Paulo é realmente fascinante e eu poderia escrever um livro sobre a cidade, se não houvessem outros na fila. Abraço!

      Excluir

O seu comentário construtivo será bem vindo. Não publicaremos ofensas pessoais ou dirigidas para qualquer entidade. EVITE ESCREVER SOMENTE COM MAIÚSCULAS. Não propague spam. Links e assuntos não relacionados ao tema da postagem serão recusados. Não use termos chulos ou linguagem pejorativa.